Jurassic World: Reino Ameaçado (Jurassic World: Fallen Kingdom – 2018)
O roteiro do primeiro “Jurassic World” é extremamente problemático, tentou buscar o equilíbrio perfeito entre encantamento e senso de perigo alcançado no original de Spielberg, acabou falhando miseravelmente nos dois quesitos, abusando da suspensão de descrença do público e colecionando furos até hoje comentados pelos fãs.
“Reino Ameaçado” é inegavelmente superior, mérito da mão firme autoral do competente diretor espanhol J.A. Bayona, que consegue, pela primeira vez desde o original, trabalhar os dinossauros no diapasão do terror. Você passa a temer a fera que se esconde nas sombras, mas, com o auxílio de alívios cômicos desajeitados, não há mais encantamento, até porque os nossos olhos já se acostumaram à artificialidade da computação gráfica, capaz de criar qualquer coisa imaginada pelos técnicos, possibilidades criativas ilimitadas, mas que jamais conseguirá reproduzir no cérebro humano a organicidade tátil conquistada com a utilização de animatrônicos.
A trama começa quatro anos após o filme anterior, a Ilha Nublar está prestes a ser destruída por um vulcão em erupção. Para salvar os dinossauros da extinção, Owen (Chris Pratt) e Claire (Bryce Dallas Howard) retornam à ilha, mas descobrem que mercenários foram contratados para leiloar os animais para milionários com intenções de transformar os dinossauros em armas. O conceito é bobo e o desenvolvimento narrativo, até mesmo na reviravolta mais ousada envolvendo o elemento da clonagem, falha terrivelmente em empolgar. O ritmo se perde no segundo ato, exatamente quando é possível perceber que a impressão digital do diretor dá lugar às decisões óbvias dos produtores. A química frágil do casal protagonista simplesmente não se sustenta, os diálogos são tolos.
O elenco é ponto fraquíssimo, com destaque negativo para o personagem vivido por Justice Smith, que, de tão caricatural em seu desespero por extrair risadas, acaba se tornando irritante. Daniella Pineda, como já é de se esperar, preenche a necessidade atual na indústria de uma personagem feminina “lacradora”. Nem mesmo a presença do carismático Jeff Goldblum, retornando à franquia como o Dr. Ian Malcolm, consegue fazer bom uso da nostalgia, graças ao texto pouco inspirado dos roteiristas Derek Connolly e Colin Trevorrow. Aliás, perceba como os nomes compostos dos personagens do filme original seguem vivos na mente dos cinéfilos, enquanto os nomes dos novos, conscientemente pensados para serem fáceis de memorizar por uma criança, fogem da mente segundos após a sessão. É a mágica diferença entre um roteiro competente e um roteiro anêmico.
O resultado diverte medianamente, com algumas sequências visualmente lindas, como aquela em que enxergamos através da névoa de fogo o sofrimento do Braquiossauro, momento que se torna grandioso pela assinatura de Bayona, mas, no geral, transmite o desgaste da fórmula. A preguiçosa (e minúscula) cena pós-créditos reflete este problema.
Cotação:
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