Divórcio (2017)
Ao final da sessão, aplaudo novamente o trabalho do roteirista Paulo Cursino (a partir do argumento de L.G. Tubaldini Jr.), o talento que está fazendo toda a crítica nacional, historicamente tão insegura, pedante e rancorosa, se curvar ao fato de que é possível criar um produto cômico interessante para o mercado e também inteligente, refinado, assim como Billy Wilder, Lubitsch, Preston Sturges, Frank Capra, entre outros mestres, provaram outrora.
Sob a direção competente de Pedro Amorim, somos presenteados com uma trama que explora a questão que muitos preferem ignorar, o casamento, enquanto ritual de contrato, representa a morte do relacionamento romântico. A indústria que enriquece igrejas, casas de festas, empresas de fotografia e filmagem, buffets e, no caso do divórcio, advogados, aproveitando o deslumbramento dos noivos, que projetam suas frustrações no evento, enquanto o sentimento gradativamente vai se tornando coadjuvante na rotina, menos interessante que a imagem que os convidados terão do casal. A imagem que fecha o filme (e que obviamente não revelarei) simboliza perfeitamente a compreensão de que o amor só pode viver e respirar “fora da lei”, espontâneo e livre.
Os protagonistas, Júlio (Murilo Benício, acertadamente apostando na gag física) e Noeli (Camila Morgado), após um problema simples na relação que poderia ser facilmente resolvido com diálogo e carinho, decidem pelo divórcio e acabam sendo inseridos em uma guerra alicerçada em mentiras, jogo sujo e humilhação. Como são cafonas “novos ricos”, os seus advogados, vividos impecavelmente por Márcia Cabrita e André Mattos, caricaturas hilárias, utilizam todos os meios possíveis para que seus honorários sejam recebidos. E sobra deboche com a patética cultura da ostentação vazia. Júlio deposita sua insegurança nos carros importados. Noeli investe tudo em calçados que, provavelmente, não terá tempo para utilizar em sua vida. Cursino também aponta sua verve crítica para a fragilidade da justiça penal e o precário sistema prisional brasileiro, sequência que ganha pontos também pela ótima participação do humorista Paulinho Serra.
Vale destacar também o trabalho do montador Danilo Lemos, que eficientemente estabelece tensão nas cenas de ação. O longa perde um pouco o ritmo no segundo ato, mas não prejudica a experiência. O toque de gênio foi abraçar como recurso narrativo o estilo de vida no interior de São Paulo, o sertanejo universitário como moldura musical, aproveitando o sotaque carregado no texto, tornando as cenas ainda mais encantadoras.
Cotação:
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