Hannah (2017)
Retrato íntimo da perda progressiva de identidade de Hannah (Charlotte Rampling), enquanto luta para chegar a um acordo com seu passado e seu próprio senso de realidade, explorando a alienação contemporânea e a luta humana para se conectar.
No reflexo do vidro do metrô, vemos uma mulher jovem nitidamente se preparando para um encontro romântico. Os olhos de Hannah envelhecidos, perdidos admirando a estranha. A sua imobilidade contrastando com o corpo ágil sentado à sua frente. Mais tarde, o marido se deita com ela na cama, após receber massagem, os olhos sequer se encontram, os corpos afastados, frieza triste no ritualístico “boa noite”, já desprovido de qualquer sentimento. Com total (e cruel) lucidez, ela enfrenta o passar do tempo, sem esperança, sem pudor, sem temor.
A sua indiferença com os próprios anseios é antagônica às atitudes mecânicas que executa diariamente, ela sente necessidade de cumprir cada mínima tarefa, espécie de subserviência autoimposta por culpas que vão sendo descortinadas em tom monocórdico.
O diretor Andrea Pallaoro tem um estilo muito pouco atraente comercialmente, como já havia demonstrado em “Medeas”, seu primeiro trabalho, de 2013, extremamente contemplativo, verdadeiramente entediante. Com “Hannah”, a experiência é mais envolvente pela presença sempre brilhante de Charlotte Rampling, que diz tudo o que precisamos saber sobre a angústia de sua personagem com sutis movimentações em músculos do rosto, mas o excesso do não dito, dos momentos desconexos, das elipses, aquelas características que levam à equivocada/arrogante denominação de “filme de arte”, começa a irritar antes dos trinta minutos.
Ao invés de incitar o espectador à imersão e reflexão, a trama o afasta gradativamente no decorrer de longos noventa minutos. “Jeanne Dielman, 23, quai du commerce, 1080 Bruxelles”, clássico de Chantal Akerman da década de setenta, similar em sua proposta narrativa, com suas mais de três horas, pode ser tido como ágil em comparação. Ao término da história, você percebe que adoraria passar mais algumas horas naquela realidade. Infelizmente isto não ocorre nesta produção.
É um primor técnico, com uma atuação minimalista admirável e a coerente fotografia melancólica em tons de cinza de Chayse Irvin, mas peca por umbilicalmente esquecer que o público precisa estar acordado para apreciar a mensagem.
Cotação:
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