Críticas

Falta tempero na receita de “Os Incríveis 2”, de Brad Bird

Os Incríveis 2 (Incredibles 2 – 2018)

Quando Helena Pêra é chamada para voltar a lutar contra o crime como a super-heroína Mulher-Elástica, cabe ao seu marido, Roberto, a tarefa de cuidar das crianças, especialmente o bebê Zezé. O que ele não esperava era que o caçula da família também tivesse superpoderes, que surgem sem qualquer controle.

A nova animação da Pixar entrega frases como estas: “Políticos não entendem as pessoas que fazem o bem apenas por ser a coisa certa a fazer”, “As pessoas não veem o que aconteceu, apenas aquilo que os políticos dizem que aconteceu”, ou “É isso aí, culpe o sistema”, a resposta debochada de um policial para o bandido que acaba de prender. O público-alvo pode não compreender, mas há uma clara conotação de crítica sociopolítica na trama. Vale destacar que esta intenção se esvai antes mesmo de se firmar, o foco é mantido nas peripécias visuais, opção que me fez questionar a razão de inserir estes pontos sem o devido interesse em desenvolvê-los minimamente para o público adulto. Fica a clara impressão de que algo se perdeu no processo de produção, hipótese mais esperançosa. A subtrama que envolve o casal de irmãos (Bob Odenkirk e Catherine Keener) que recruta a Mulher-Elástica (Holly Hunter) para uma campanha de ressocialização e legalização dos super-heróis é complexa demais para crianças e entediante demais para adultos, várias “regras” narrativas são apresentadas e, logo depois, descartadas, não há interesse em explorar satisfatoriamente as motivações do casal.

A questão da representação da mulher na indústria poderia ser trabalhada com mais inteligência e senso de humor. A inversão de protagonismo, do “Sr. Incrível” (Craig T. Nelson) para a “Mulher-Elástica”, caminho óbvio no zeitgeist atual, não corre qualquer risco que torne o recurso especialmente relevante, provavelmente você já deve ter visto várias comédias que utilizam as mesmas gags, mostrando os apuros de um pai desajeitado que se vê obrigado a tomar conta sozinho de um bebê. Sem pensar muito, consigo lembrar de cenas similares em “Olha Quem Está Falando” e na refilmagem norte-americana de “Três Solteirões e Um Bebê”. Quando pensamos que a obra é vendida como uma continuação necessária na mente de seu criador, Brad Bird, não dá para disfarçar a frustração ao final da sessão. O roteiro peca ao executar a mesma fórmula desgastada do subgênero de super-heróis, uma aventura pouco inspirada em que até uma criança na sala escura antecipa rapidamente a tradicional reviravolta envolvendo o real antagonista.

Sem um momento verdadeiramente emocionante, ou alguma cena que se mantenha na mente após a sessão, ficamos reféns da ação frenética. Sem revelar muito sobre a trama, a utilização dos poderes do bebê Zezé (Eli Fucile) é o ponto alto cômico. O roteirista/diretor esperou 14 anos para entregar uma história genérica, previsível e, acima de tudo, que representa evolução ínfima no desenvolvimento dos personagens. É mais fácil acreditar que o estúdio apenas aproveitou a nostalgia dos fãs e a lucrativa demanda por filmes com mulheres “empoderadas”.

O resultado é divertido, os méritos técnicos da Pixar são inegáveis, mas falta tempero na receita.

Cotação: 

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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