Oh Lucy! (2017)
Setsuko Kawashima (Shinobu Terajima) é uma mulher solitária que trabalha em um monótomo escritório em Tóquio. Quando vê que precisa sair da rotina, ela decide estudar inglês, e a partir daí, sua vida nunca mais é a mesma. É durante as aulas que Setsuko descobre sua outra identidade, o alter ego “Lucy”. Enquanto experimenta desejos e situações antes impensáveis, ela precisa lidar com o desaparecimento do seu instrutor John (Josh Hartnett).
O roteiro, escrito pela própria diretora Atsuko Hirayanagi a partir de seu curta-metragem, apresenta os problemas comuns de um longa de estreia: ritmo irregular, tremenda dificuldade em estabelecer o tom e, especialmente após os primeiros trinta minutos, algumas “barrigas” que prejudicam a imersão, fazendo com que a obra se torne arrastada em diversos momentos, constatação triste, já que a duração máxima não chega aos noventa minutos. Felizmente, o doce carisma da carente protagonista e a encantadora jornada interna de sua paixão pelo professor redimem a experiência.
A melancolia domina cada cena, enquanto vemos a adorável e tímida Setsuko gradativamente abraçando a personalidade da libertária Lucy, nome que recebeu na sua aula de inglês. Uma mulher de meia-idade que vive sozinha e está entediada com o trabalho no escritório, local de falsidade e futilidade. Deprimida, flerta com o suicídio já nos primeiros minutos, quando fica totalmente sem reação ao testemunhar uma tragédia na estação do metrô. O jovem professor representa a antítese dos costumes de seu país, caloroso e informal, até malandro, acaba ensinando a ela o valor do toque.
O melhor elemento na trama é simbolizado pelo personagem periférico vivido por Koji Yakusho, excelente ator japonês que ganhou fama mundial em “Dança Comigo?” (1996), um misterioso colega de classe que parece compreender perfeitamente as dores psicológicas que a protagonista sequer reconheceu que sente. Ele enxerga por trás de seu sorriso frágil a intensa solidão. O roteiro esquemático peca exatamente por explorar pouco este relacionamento, dedicando atenção demasiada à inferior subtrama road movie que envolve a busca pela sobrinha. É tudo muito calculado, nada soa orgânico.
Cotação:
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