Pássaros Feridos (The Thorn Birds – 1983)
O livro original da autora australiana Colleen McCullough é um dos meus romances favoritos, minha saudosa avó materna tirou de sua coleção e me deu de presente na pré-adolescência. Eu tive contato com a minissérie em reprise noturna do SBT, não me recordo o ano, mas fiquei apaixonado pela trama e, principalmente, pela linda trilha sonora composta por Henry Mancini.
Entrevistei a filha dele, Monica, que comentou sobre este trabalho: “Esta é a minha trilha sonora favorita dentre todas as que o meu pai compôs. Ele escreveu muito para projetos televisivos, as pessoas normalmente não lembram disto, muitos temas ao longo dos anos. Esta, especificamente, foi um desafio para ele. Quando você compõe para um filme, você escreve uma hora de música para um longa-metragem de duas horas. Uma minissérie como esta, foi algo em torno de oito horas de filme. O meu pai levou muitos meses trabalhando. E ele foi recompensado com um Globo de Ouro.”
Não importa quantas vezes já revi os episódios, sempre me emociono nos mesmos trechos. O sucesso dela mundialmente, com números de audiência que só foram batidos nos Estados Unidos por “Raízes”, não é por acaso. É mérito da extrema competência da equipe, um elenco afinadíssimo, além de um roteiro, co-escrito pela própria autora, que é fiel em letra e espírito à obra.
Inicialmente a ideia era uma adaptação para cinema, o diretor Herbert Ross chegou a ser cogitado para comandar, tendo como protagonistas Christopher Reeve, Jane Seymour e Audrey Hepburn, mas os produtores encontravam dificuldade em reduzir o escopo da trama envolvendo três gerações para algo em torno de duas horas. Eles acabaram optando por uma minissérie, atitude mais sensata.
Com direção do canadense Daryl Duke, estrelando Richard Chamberlain (Padre Ralph de Bricassart), Rachel Ward (Meggie), Jean Simmons (Fiona), Richard Kiley (Paddy), Christopher Plummer (Arcebispo Vittorio) e Barbara Stanwyck (Mary), “Os Pássaros Feridos” foi exibido pela ABC, de 27 a 30 de março, de 1983.
A pequena Meggie (Sydney Penny), desprezada por ser mulher numa época intensamente machista, ignorada por seus pais em casa, encontra alento apenas na figura do padre Ralph, a figura paterna que orienta e afasta temores desnecessários, e, principalmente, alguém que simplesmente a escuta com atenção, alguém que verdadeiramente se importa. Não há qualquer traço de malícia na relação, apenas afeto sincero.
É linda a cena em que ela, apavorada sem entender as mudanças naturais de seu corpo, acredita estar morrendo, até que escuta atentamente à explicação dele, provavelmente um dos momentos mais singelos desta primeira fase da história, fortalecendo ainda mais a conexão entre os dois.
Mary, impecável atuação da veterana Stanwyck, consciente de que está no crepúsculo da vida, desafia constantemente o padre, o único sonho que não conseguiu saciar com sua fortuna. Ela, espertamente, consegue fazer com que ele se sabote por sua ambição por poder no sistema religioso, afastando-o do contato com a família por anos. Quando ele reencontra Meggie, já adolescente, bela e atraindo a atenção dos rapazes na festa familiar, a troca de olhares é fascinante.
A jovem então percebe que sempre foi apaixonada pelo querido amigo de infância. Apesar de aparentemente ser o aspecto mais relevante, o relacionamento de Meggie e Ralph não é o tema mais forte. O épico de McCullough aborda essencialmente os malefícios psicológicos da irresponsabilidade parental, Meggie sofre com a mãe, que exibe clara preferência pelo seu irmão problemático e, anos depois, comete os mesmos erros com seus filhos.
A estrutura é melodramática em excesso, não poderia deixar de ser, as desgraças vão se acumulando, as reviravoltas são muitas, mas o tom é mantido leve nos quatro episódios, com inserções de alívios cômicos esporádicos altamente eficientes. Alguns momentos são brilhantes, como a sequência que abre o terceiro episódio, alternando o casamento de uma magoada Maggie e o ritual de ordenação de Ralph como Cardeal em Roma.
Outro ponto que vale destacar é toda a subtrama envolvendo Frank (John Friedrich), irmão amoroso que descobre ser fruto de outro relacionamento e que luta pela dignidade da mãe, submissa às grosserias do pai, gatilho emocional que o fará fugir de casa e se aventurar no boxe amador, local perfeito para extravasar sua raiva. E como esquecer a onírica ilha deserta em que o casal finalmente consegue se libertar de todos os medos e pressões da sociedade, vivendo, ainda que por pouco tempo, plenamente o sentimento que transbordava?
Revista para a preparação deste texto, a produção segue eficiente, encantadora. Um clássico que merece ser melhor avaliado pelos acadêmicos, usualmente vitimados pela fobia por tudo o que é popular. O maior refinamento está na simplicidade.
Cotação:
Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…
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Também assisti pela primeira vez no SBT, mais precisamente na reprise de 2006. Agora voltou a passar por lá nos sábados. Daquela época, me lembro muito nitidamente do último episódio. Marcante demais. A série, como um todo, é uma obra de arte. Realmente, falta os acadêmicos olharem com mais carinho.
Parabéns pelo texto, li o livro e depois assisti a minissérie. Amo a história, amo a trilha sonora. Guardo o livro até hoje com muito carinho.
Sugiro a reedição da série de Angélica.
Foi a melhor mimi-série que ja assisti.... Vi pela primeira vez,em dezembro de 1987,no SBT. Vi pela segunda vez em 2006 pelo SBT. Depois consegui compra-la pela internet... Ja a vi mais de 20 vezes!!! E tornarei a ve-la.Nunca vi uma História tão cheia de viradas numa familia! Quem não viu,veja!!! Amei! Te emociona do começo ao fim!!!
Tenho duas edições do livro que já li umas quatro vezes. E enquanto não adquiri a série em oito dvds não sosseguei. Já assisti por várias vezes. É das melhores estórias que vi e li.
Livro e adaptação para a minisserie maravilhosos.
O texto de Otávio Caruso está excelente e fiel à estoria.