Críticas

Crítica de “Nos Vemos no Paraíso”, de Albert Dupontel

Nos Vemos no Paraíso (Au revoir là-haut – 2017)

Em novembro de 1918, alguns dias antes do Armistício de Compiègne, Édouard Péricourt (Nahuel Pérez Biscayart) salva a vida de Albert Maillard (o próprio diretor, Albert Dupontel). Ambos não têm nada em comum, a não ser a guerra, e são obrigados a se unir para sobreviver. Anos depois, Albert e Édouard planejam uma farsa para desmascarar o Tenente Preadelle (Laurent Lafitte), que tenta fazer fortuna com corpos das vítimas da guerra.

O começo do filme é intenso, o crepúsculo da Primeira Guerra Mundial evidencia aos olhos dos soldados o desejo de seu superior por sangue. Tudo levava a crer que os dois lados já aguardavam em silêncio a resolução do conflito, cansados de tantas mortes em vão, mas o tenente Preadelle (introduzido coerentemente nas sombras), que inspirava medo nos comandados, exige que a batalha continue, enviando dois buchas de canhão para a morte certa. Pouco tempo depois, os corpos tombam sem vida, as explosões reiniciam, tudo volta ao normal no cenário caótico e, acima de tudo, lucrativo para os senhores da guerra. Albert e Édouard, desfigurado e incapaz de se comunicar, intencionam de todas as formas criticar a estupidez daquela farsa belicista, utilizando principalmente a arte, veículo que sempre alimentou a inspiração de Édouard e que, após a tragédia, acaba se tornando sua arma mais poderosa. Ele, desenhista por vocação, passa a produzir máscaras que expressem com surrealismo os seus sentimentos.

Nesta adaptação do premiado romance de Pierre Lemaitre, roteirizada e dirigida por Albert Dupontel, o tom onírico na estrutura que alterna flashbacks e sequências brutais, remete imediatamente ao estilo de Jean Pierre-Jeunet, mas também me trouxe à lembrança a ousadia visual de Leos Carax. O alto orçamento é perceptível na liberdade criativa, mas, em contrapartida, prejudicam a imersão emocional na trama. A intenção clara é explorar todos os recursos técnicos, a impecável direção de arte e a fotografia de Vincent Mathias garantem o refinamento, mas a câmera irrequieta, com o tempo, passa a desviar a atenção de maneira irritante, reduzindo consideravelmente o potencial dramático e anestesiando os sentidos. E a mensagem que o roteiro entrega acaba por negar, em certa medida, o valor redentor da arte, assumindo discurso pessimista e cínico celebrando o capital.

“Nos Vemos no Paraíso” é um espetáculo que enche os olhos, mas carece de alma.

Cotação: 

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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