Críticas

Crítica de “Troca de Rainhas”, de Marc Dugain

Troca de Rainhas (The Royal Exchange – 2017)

Em 1721, para manter a paz entre França e Espanha após anos de guerra, o Regente do Reino da França, Philippe d’Orléans (Olivier Gourmet), propõe uma troca de princesas que resulta no noivado do rei da França, Louis XV (Igor van Dessel), de 11 anos, com Anna Maria Victoria (Juliane Lepoureau), de 4 anos; e do príncipe herdeiro Louis, de 11 anos, com Louise-Elisabeth d’Orleans (Anamaria Vartolomei), de 12 anos. Porém, a chegada dessas jovens princesas pode comprometer os jogos de poder na Corte.

O roteiro do diretor Marc Dugain, baseado no livro da professora Chantal Thomas, acerta ao focar no desenvolvimento dos personagens, evitando o equívoco comum em dramas de época de se garantir apenas na direção de arte, figurino, com distanciamento quase arrogante, como se a história tivesse força suficiente para encantar sem firulas narrativas.

Há tensão nas camadas de interpretação menos perceptíveis, inteligentemente em sintonia com o movimento de representatividade feminina na indústria, estabelecendo as figuras das duas princesas, manipuladas em favor do casamento entre a monarquia francesa e espanhola, como forças elegantes que resistem bravamente diante da opressão do sistema machista em que estão inseridas, mecanismo ritualístico que tenta tomar o controle de seus destinos.

A atenção para os detalhes é louvável, os cenários luxuosos, iluminados como se representassem espécie de paraíso na Terra, com os movimentos de câmera facilitando a imersão do espectador, contrastam brutalmente com a falsidade inerente aos negócios que são operados por uma nobreza decadente, sem escrúpulos, com a montagem favorecendo de forma episódica um retrato fragmentado, conscientemente pouco incisivo, dos bastidores sujos dos jogos de poder.

A intenção é ressaltar naturalmente os absurdos cometidos, simbolizados no desgaste psicológico e físico das meninas, ao invés de abraçar um discurso panfletário, método sempre mais eficiente e que não subestima a inteligência do público.

Cotação: 

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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