A Festa (The Party – 2017)
Janet (Kristin Scott Thomas), uma política de esquerda, convida os amigos do partido para comemorar a nomeação para o cargo de Ministra da Saúde britânica, coroando um objetivo que ela perseguia há anos. Seus amigos também têm suas revelações, como uma gravidez inesperada. Mas, é a surpresa revelada pelo marido de Janet, o intelectual Bill (Timothy Spall), que transforma completamente o evento, fazendo a festa logo se transformar em pesadelo.
A estrutura é de teatro filmado, o senso de humor trabalhado é árido em excesso, intelectualmente calculado para evidenciar, em traços caricaturais, indivíduos de esquerda, que defendem diálogos supridos por clichês e tremenda pretensão, quase sempre vazia, como, por exemplo, uma piada que é construída lentamente por Bill, minutos desperdiçados em seu monólogo depressivo sobre sua forma racional de pensar a vida, que culmina na punch line mais óbvia, ou, momentos depois, na tirada debochada: “você é uma lésbica de primeira classe, mas uma pensadora de segunda”, material bastante fraco, especialmente considerando o currículo refinado da roteirista/diretora Sally Potter. Se a personagem é cínica, a função dela na obra é disparar frases de efeito ácidas a torto e direito, em suma, uma tira de cartolina ambulante. Esta opção reduz os conflitos ao espectro unidimensional, dificultando ainda mais a imersão do espectador.
A curta duração (70 minutos) prejudica o ritmo, os acontecimentos se sucedem com rapidez, sem peso dramático, com muito falatório entre personagens rasos, algo que se torna irritante em pouco tempo. Nem mesmo o brilhantismo na atuação de Patricia Clarkson, como a melhor amiga da protagonista, consegue tornar mais interessante o desenvolvimento da trama. A crítica sociopolítica é convencional, fracamente desenvolvida e finaliza sem impacto, o roteiro peca por se esforçar pouco, ousar menos ainda, aproveitando mal a limitação do espaço cênico. A experiência se torna menos insuportável devido à bela fotografia em preto e branco de Aleksei Rodionov, de “Vá e Veja”.
É fácil comparar com “O Anjo Exterminador”, de Buñuel, ou “Deus da Carnificina”, de Polanski, mas considero uma tremenda forçada de barra, já que “A Festa” não consegue sequer executar com eficiência sua mensagem.
Cotação:
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