Retorno a Howards End (Howards End – 1992)
Irmãs que vivem de herança travam amizade com família de rico comerciante. Com o falecimento da esposa, Henry Wilcox (Anthony Hopkins) propõe casamento à jovem Margaret Schlegel (Emma Thompson), criando oposição em ambas as famílias.
O sucesso deste terceiro projeto da companhia Merchant-Ivory adaptando fielmente a obra de E.M. Forster, após “Uma Janela Para o Amor” e “Maurice”, ajudou a introduzir os leitores brasileiros no universo literário do escritor britânico. Com roteiro da indiana Ruth Prawer Jhabvala e direção de arte refinada, a trama, com compreensível maniqueísmo, aborda o sistema opressor das classes abastadas e a pureza bondosa dos mais pobres. Assim como no livro, os conflitos humanos são o microcosmo utilizado como moldura para a representação da decadência moral, total falta de escrúpulos, da sociedade inglesa que havia sido abalada por mudanças econômicas.
As irmãs Schlegel, de origem alemã, vivazes, sorridentes, polidas no senso mais correto da palavra. Já os Wilcox, austeros, apegados ao dinheiro, preocupados com a fachada que ostentam na sociedade, vivendo confortavelmente uma mentira, em suma, tremendamente infelizes. A história basicamente se foca no atrito entre estas duas forças, a impossibilidade de comunicação entre indivíduos regidos por valores antagônicos, resultando invariavelmente em violências sociais simbólicas disfarçadas de bom comportamento, com destaque para a discussão sobre o papel da mulher numa sociedade pautada por rígidos padrões morais intensamente hipócritas.
A epígrafe do livro, captada inteligentemente na adaptação, “conecte-se apenas”, sintetiza o doce antídoto de todos os problemas levantados na trama. Quando se há um esforço para conectar ricos e pobres, quando o indivíduo verdadeiramente se preocupa em entender o outro, pontes são criadas, a dor é amenizada, lágrimas são secadas pela mão que afaga. Quando Ruth Wilcox (Vanessa Redgrave), no estágio final de sua doença, em seu leito redige à mão um testamento no qual lega sua amada residência campestre “Howards End” à Margareth Schlegel, a única que reconheceu o valor afetivo daquele local que, para seus parentes, representava apenas status, a alegria grotesca de possuir o objeto de desejo dos mais pobres, ela deixa seu marido irado. O viúvo (Hopkins) tenta impedir o gesto, joga sujo sem remorso, sem imaginar que, alguns anos depois, ele estaria perdidamente apaixonado pela jovem.
Como ponto negativo, o ritmo é inegavelmente arrastado, passagens de tempo são executadas de forma desajeitada, há uma frieza calculada na delicada assinatura do diretor, algo que pode afastar parte do público, assumo que não é exatamente o estilo de drama que aprecio, a filmografia de Ivory carece de senso de humor, mas, levando tudo em consideração, “Retorno a Howards End” é o trabalho dele que mais gosto.
Cotação:
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