As Quatro Chaves Mágicas (1971)
Maria vai viver com uma tia que é casada e tem um sobrinho, João. Os dois ficam amigos e resolvem consertar um velho jipe e passar o verão viajando. O filme é o conto de João, Maria e a Bruxa, completamente repensado.
O diretor Alberto Salvá havia acabado de filmar o excelente “Um Homem sem Importância” e, para relaxar, começou a frequentar uma aula de ioga. Ele percebeu que, após a sessão, as pessoas entravam furtivamente em uma outra sala e não voltavam mais. Curioso, descobriu que havia um “círculo interno” no local, formado por magos. Nas reuniões, ele testemunhou situações fascinantes envolvendo truques aparentemente inexplicáveis.
A experiência de entrar em contato com este mundo místico inspirou a criação do roteiro de “As Quatro Chaves Mágicas”, que foi filmado na região serrana do Rio de Janeiro, protagonizado pela sua esposa à época, a bela Dita Côrte-Real. É, sem dúvida, o projeto nacional mais interessante direcionado ao público infanto-juvenil, uma pérola pouco lembrada que, ainda hoje, impressiona pela ousadia com que dribla o baixo orçamento com muita criatividade.
O roteiro, escrito em dois dias, com o auxílio químico de Catovit e uma guimba de maconha, como o próprio Salvá afirmava em entrevistas, transpira simbologia, com diálogos cheios de charadas, celebrando a pureza das crianças. Na trama, João (Lula) e Maria (Dita) partem em uma jornada hippie pelo interior e são abordados por três bandidos (Milton Gonçalves, Wilson Grey e Emiliano Queiroz), sendo salvos por um japonês misterioso (Kazuo Kon), com quem passam a viver em uma praia, aprendendo que a inocência plena, sem malícia, forma seres frágeis, incompletos.
Eles são treinados nas artes marciais em sequências claramente inspiradas pelas produções dos Shaw Brothers. Abandonados por ele, perdidos na floresta, a dupla encontra a bruxa Astarte (Isabella), que deseja dominar João.
A pura Maria, com sua capacidade lírica de se encantar com as coisas simples da vida, descobre uma dimensão paralela. O seu “coelho de Alice” é o gnomo Arad (Meio-Quilo), que, em troca de dois queijos, decide se tornar o mestre espiritual da garota. Quando conseguir controlar os quatro elementos, ela estará pronta para enfrentar a bruxa.
Os duelos mágicos remetem a “O Corvo”, de Roger Corman, com a câmera criando as ilusões, que vão de objetos que são manipulados pela mente à delicadeza lúdica da cena em que o gnomo, com uma mão, ergue a jovem.
Vale destacar que Salvá, décadas antes do feminismo virar algo lucrativo no cinema, decidiu inteligentemente dar protagonismo à Maria, que, como o próprio concunhado desalentado afirma ao final, resolve todo o problema praticamente sozinha.
A obra teve o cartaz desenhado por Ziraldo, recebeu Menção de Honra no prestigiado Festival de Sitges (Espanha) e os seguintes prêmios: Coruja de Ouro, 1971, do INC – Instituto Nacional de Cinema, de Melhor Roteiro e de Melhor Atriz Coadjuvante, o Air France, 1971, RJ, com Prêmio Especial para o diretor, além de levar Melhor Filme no Festivalzinho de Brasília.
Cotação:
No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não…
No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não…
Eu amo preparar esta tradicional lista de 10 Melhores Filmes lançados no Brasil, nas salas…
Jurado Nº 2 (Juror #2 - 2024) Pai (Nicholas Hoult) de família serve como jurado…
Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…
Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…
View Comments
Octavo Caruso
Muitas histórias atrás dos bastidores, em época épica, do filme As Quatro Chaves Mágicas.
Abraços
Dita Côrte-Real