Críticas

Crítica de “O Predador”, de Shane Black

O Predador (The Predator – 2018)

Uma perseguição entre naves alienígenas traz à Terra um novo predador, que acaba sendo capturado por humanos. Antes disso, ele tem seu capacete e bracelete roubados por Quinn (Boyd Holbrook), um atirador de elite que estava em missão no local onde a nave caiu. A bióloga Casey (Olivia Munn) é então chamada para examinar o ser recém-descoberto, mas ele logo consegue escapar do laboratório em que é mantido cativeiro. Ao tentar recapturá-lo, Casey encontra McKenna, que está em um ônibus repleto de ex-militares com problemas. Juntos, eles buscam um meio de sobreviver e, ao mesmo tempo, proteger o pequeno Rory (Jacob Tremblay), filho do atirador, que está com os artefatos alienígenas pegos pelo pai.

O que acontece quando um roteiro tenta emular a fórmula cômica das produções da Marvel em uma franquia protagonizada por um brutal caçador alienígena? E, pior, adicione nesta equação a presença de um personagem mirim, um pequeno gênio, recurso narrativo irritante que remete à tragédias cinematográficas como “Robocop 3”. É difícil crer que Shane Black, um nome que já representou tanto frescor criativo em Hollywood, tenha assinado esta bomba. “O Predador” desta versão não é apenas diluído de sua essência, ele é uma galhofa.

O conceito do original de 1987, simples e direto, com inteligente construção de suspense, evitando expor demais a criatura, divertia e causava medo na mesma medida. O novo mal consegue sustentar o tom, vai flutuando sem segurança entre a comédia rasgada e a aventura genérica. A equipe de ex-militares, vividos por Thomas Jane, Keegan-Michael Key, Trevante Rhodes, Alfie Allen e Augusto Aguilera, protagoniza momentos desconcertantes de intenso ridículo, parece uma trupe de circo de interior, piadas a torto e direito, sem o mínimo necessário de credibilidade. Olivia Munn vive uma cientista que cai de paraquedas (quase que literalmente) no conflito, formando aliança imediata com os estranhos simpáticos e se tornando, num passe de mágica (talvez retrabalhada em estágio avançado para suprir o feminismo lucrativo atual da indústria), uma heroína capaz de bater de frente com a Ellen Ripley. O grande herói, em teoria, é o atirador vivido por Boyd Hollbrook, ator com carisma zero, sem presença em cena, prejudicado por atitudes sem sentido algum, furos que o roteiro vai acumulando até chegar ao ponto em que o espectador fica anestesiado e apenas aceita que está num trem-fantasma precário. Não dá para acompanhar de forma lógica a trama, tudo muito confuso, barulhento e “abrilhantado” por uma utilização vergonhosa do 3D.

Os efeitos são impecáveis, as sequências de ação não surpreendem, ou empolgam como deveriam, mas cumprem bem sua função. O problema é o contexto. O filme não sabe exatamente o que quer, insere “cães” alienígenas, faz um deles ficar manso, depois esquece, os personagens agem de forma esquizofrênica, as escolhas parecem nascidas de uma reunião de executivos, em que cada um palpitou absurdos tentando impressionar mais, com total desconhecimento de como se estrutura um roteiro. As situações se sucedem de forma conveniente, pontos que servem apenas para conduzir aos eventos, sem fluidez, falha que normalmente é perdoada quando o material diverte, o espectador “baixa a guarda”, mas que destoa demais quando tudo dá errado.

Se você quer rir com o monstrinho do barulho aprontando altas confusões, pague o ingresso! Mas se você é fã dos dois filmes originais, respeita o personagem na cultura popular, ou apenas aprecia roteiros minimamente coerentes, fique bem longe da sala escura.

Cotação: 

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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