A Maldição da Lua Cheia (The Boy Who Cried Werewolf – 1973)
O jovem Richie (Scott Sealey), cujos pais são divorciados, vai passar um final de semana com o seu pai (Kerwin Mathews) em uma cabana isolada nas montanhas. Então, em uma noite de lua cheia, seu pai é atacado por uma misteriosa criatura, que Richie acredita ser um lobisomem. Agora o garoto precisa convencer todos de que na próxima lua cheia seu pai se transformará, antes que seja tarde demais.
Este é muito pouco lembrado, mas me marcou profundamente quando vi na televisão na infância, ainda que não tenha sentido medo. É uma produção barata, foi exibida nos Estados Unidos em sessão dupla com a pérola trash “O Homem Cobra”, que passava sempre no “Cinema em Casa” do SBT, mas compensa a ausência de sangue com um leitmotiv perturbador. Uma espécie de “Kramer Vs. Kramer”, com o divorciado pai sendo a vítima da mordida de um lobisomem, perante os olhos apavorados de seu filho pequeno. Por trás da licantropia imaginada em tom fabulesco, podem-se perceber temas pesados, como a analogia da maldição com o alcoolismo e os efeitos devastadores em uma família fragilizada, especialmente no psicológico de uma criança.
A própria composição visual da criatura, mais próxima de um inofensivo bichinho de estimação, fala diretamente à metáfora da ameaça inesperada. Não é grotesco, repulsivo. Visto pelos olhos do menino, o alcoolismo do pai e a consequencial agressividade da figura de autoridade evidenciam o terror que está dentro de casa, subvertendo o símbolo maior de conforto e proteção. O diretor Nathan Juran, de “Simbad e a Princesa”, consegue manter o equilíbrio tonal entre o desconforto e a leveza, inserindo ainda traços de crítica ao fanatismo religioso, resultando em uma opção perfeita como introdução no gênero para crianças pequenas.
No mês seguinte, o lançamento de “O Exorcista” mudaria completamente a visão da indústria com o gênero, não haveria mais espaço para esta ingenuidade encantadora.
Cotação:
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