Críticas

“O Exorcista 2 – O Herege”, de John Boorman, na NET NOW

O Exorcista 2 – O Herege (Exorcist II: The Heretic – 1977)

Padre Lamont (Richard Burton) é escolhido por seus superiores para investigar a morte do padre Merrin, que morreu durante o exorcismo da jovem Regan MacNeil (Linda Blair). Lamont encontra Regan sob os cuidados psiquiátricos de Dr. Tuskin. Ao hipnotizar a menina, ele descobre que Merrin (Max von Sydow) havia exorcizado o mesmo demônio de um menino na África. Em busca de respostas, padre Lamont viaja para África para encontrar o menino.

Este filme é uma bomba, mas uma bomba de chocolate deliciosa. Eu nutro afeto especial, já que, durante um bom tempo, foi minha companhia na leitura do original de William Peter Blatty. Na época em que passava minhas tardes e noites apavorado folheando as páginas do clássico, tive dificuldade de encontrar o VHS do primeiro filme. Como também não estava passando na televisão e a internet ainda não existia na realidade do brasileiro, eu tive que saciar meu desejo por algo audiovisual relacionado à obra com esta bela porcaria. Eu lembro que sentia mais medo nos créditos iniciais, com aqueles gritos femininos na tela escura, do que no restante da trama.

O fraco roteiro foi escrito por William Goodhart, que depois faria apenas “Ases do Céu”, outra ruindade sem tamanho. Na direção, o competente John Boorman, na maior derrapada de sua carreira. O que realmente me chamava a atenção era a gracinha da Linda Blair, voluptuosa, tentando de todas as formas fazer o público esquecer a menina ingênua do original. Ela aceitou participar com a condição de que não utilizaria aquela maquiagem demoníaca, fazendo todas as cenas de sapateado (!?) e deixando o trabalho sujo para uma dublê.

A ideia original era produzir algo barato, rápido, possivelmente utilizando sequências cortadas do primeiro, algo na medida para capitalizar no título que havia influenciado o gênero internacionalmente. Quando o interesse passou a ser abordar o tema de forma mais intelectual, adicionando na equação elementos psicológicos, Boorman, que havia sido sondado para dirigir o primeiro, levantou a mão e assinou o contrato. Richard Burton (que provavelmente não estava sóbrio quando aceitou o trabalho) e Louise Fletcher, que havia acabado de receber o Oscar de Melhor Atriz por “Um Estranho no Ninho”, acompanhados de um perceptivelmente incomodado Max von Sydow, adentraram o projeto que tinha tudo para surfar na onda de sucesso do original. Fletcher vive uma psicóloga que administra um hospital para crianças com problemas emocionais e, por motivos nunca explicados, surdas.

Quando Boorman e o elenco perceberam que os diálogos e cenas não faziam muito sentido, Rospo Pallenberg foi convocado para tentar operar um milagre reescrevendo o material. Ninguém sabia ao certo como aquela história devia terminar, a única coisa que tinham certeza era de que ela jamais deveria ter sido iniciada. Mas era tarde, a equipe se manteve profissionalmente unida, como os violinistas do Titanic. O desleixo criativo já se mostra no pôster do filme. Os produtores pensaram: “Ah, deixa para lá, coloca só o rosto da Linda Blair que o pessoal vai pagar o ingresso.”

E para deixar o espectador no clima, o filme aposta em dedicar tempo generoso à uma bobagem envolvendo a terapia da hipnose, o tal “sincronizador”, um dispositivo que permite que duas pessoas habitem os sonhos de uma pessoa simultaneamente, ou algo assim, sei lá… As coisas só pioram deste ponto em diante, com o roteiro tentando fazer gafanhotos soarem ameaçadores.

Mas “O Exorcista 2” tem um mérito inegável. O escritor do livro original, Blatty, que sequer cogitava retornar ao tema, viu o filme no cinema e morreu de rir. Minutos depois, percebeu que seu legado estava prejudicado, logo, decidiu escrever “Legion” e, tempos depois, tomou o controle criativo na adaptação dele, “O Exorcista 3”, um ótimo filme que tirou o gosto amargo da boca de cinéfilos do mundo todo.

Cotação: 

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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