Críticas

“O Leão de Sete Cabeças”, de Glauber Rocha

O Leão de Sete Cabeças (Der Leone Have Sept Cabeças – 1970)

A história retrata um rebelde africano e um guerrilheiro latino-americano, que organizam uma revolução para libertar seu país.

Analisando sem patriotismo exagerado, sem o apego desesperado dos acadêmicos pelo seu conjunto de obra, Glauber Rocha fez um filme realmente muito bom, “Terra em Transe”, e muitos trabalhos intensamente problemáticos, alguns destes francamente insuportáveis, mas dois destes antídotos infalíveis para insônia são fascinantes: “O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro” e “O Leão de Sete Cabeças”.

O segundo, produzido no período de seu exílio, filmado no Congo-Brazzaville, traz várias ideias excelentes, mas acaba se perdendo na postura indisciplinada de seu realizador (sem roteiro, por exemplo, prejudicando o primeiro e, especialmente, o último ato), uma pegada agressiva que, quase sempre, desperdiça munição, são incontáveis os minutos dedicados à sequências estendidas de situações rasas, repetitivas, quando a mensagem já foi passada, mas Glauber precisa massagear incontrolavelmente seu ego, como na cena dos militares armados rodopiando na frente das crianças africanas, inicialmente interessante, mas enfraquecida pela exaustão, ou o embate físico (conscientemente sem o contato) do padre (vivido por Jean-Pierre Léaud, parceiro frequente de Truffaut) com o revolucionário, uma opção de estilo que apenas cansa o espectador sóbrio.

Você fica incomodado, olha para o relógio, já que a obra despreza seu investimento emocional, acaba tendo sua atenção desviada para o mosquito que passeia pelo ambiente, pensa nas contas a pagar do mês, e, depois de muito tempo, quando volta o olhar para a tela, descobre surpreso que apenas cinco minutos se passaram.

Isto sem falar que muitos conceitos ideológicos são altamente ingênuos e equivocados, como a mitificação do revolucionário, arquétipo de Che Guevara, além da usual fixação adolescente pela nudez feminina, que, neste caso, defendida pela bela Rada Rassimov, de “Três Homens em Conflito”, vivendo Marlene, espécie de símbolo da influência norte-americana nos países vizinhos, não poderia ser mais gratuita.

Mas há um aspecto fascinante no filme, algo que me estimula a rever, a alegoria proposta, o personagem do jovem africano que é convocado para se tornar presidente e se torna uma caricatura populista, vestida como um nobre europeu, acompanhada sempre por saxofonistas, uma imagem que dificilmente é esquecida, assim como o conflito interno de Zumbi entre a guerra e a diplomacia, trabalhado como no teatro, com atores defendendo argumentos antagônicos ao redor dele, ou aquela sequência linda e brutal em que os colonialistas (entre ele, o sempre impecável Hugo Carvana) retiram gentilmente os africanos felizes dos galhos das árvores, para, logo depois, colocá-los lado a lado e metralhá-los sem piedade.

“Der Leone Have Sept Cabeças”, toque genial, o título abraçando várias línguas daqueles que dominaram os nativos, poderia ser muito mais impactante, caso a obra tivesse se focado mais no coração pulsante que move a simbologia das danças do povo africano, os rituais praticados para a câmera com senso de urgência, como se conscientemente lutassem para manter sua identidade, mas, infelizmente, o filme é reduzido à curiosidade para cinéfilos mais dedicados pelas escolhas umbilicais de seu próprio diretor.

Cotação: 

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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