Papillon (2017)
Henri Charrière (Charlie Hunnam), chamado de Papillon, pequeno bandido do subúrbio de Paris da década de 30 é condenado à prisão perpétua por um crime que não cometeu. Enviado para a Ilha do Diabo, na Guiana Francesa, ele conhece Louis Dega (Rami Malek), homem que Papillon promete ajudar em troca de auxílio para escapar da prisão.
O diretor dinamarquês Michael Noer, que começou como documentarista, imprime forte personalidade à clássica história real de resistência humana e companheirismo leal entre dois prisioneiros temperamentalmente opostos, conseguindo honrar a memória do “Papillon” de 1973, dirigido por Franklin J. Schaffner, sem apelar para o melodrama, com o texto de Aaron Guzikowski, do excelente “Os Suspeitos”, de Villeneuve, baseado no roteiro escrito por Dalton Trumbo e Lorenzo Semple Jr. para o original.
Esta postura respeitosa é louvável, já que é impossível superar os esforços de Steve McQueen e Dustin Hoffman, ou emular o carisma imbatível da dupla. Consciente disto, Guzikowski decide evitar a fala mais memorável e emocionalmente impactante do desfecho do anterior, preferindo ampliar o relato, agregando novas informações sobre a vida pregressa e a jornada pós-liberdade do protagonista, definindo no todo um tom mais sóbrio e reflexivo que complementa inteligentemente a experiência sensorial catártica e mais emotiva do original.
Charlie Hunnam (Charrière) e Rami Malek (Dega) são os principais responsáveis pelo investimento emocional do público, eles, construídos tridimensionalmente no roteiro, conseguem transmitir a fragilidade psicológica inerente à qualquer prisioneiro, com maior enfoque no desenvolvimento da amizade, sem resvalar em recursos teatrais facilitadores como tiques. Como exemplo, basta analisar uma brutal sequência em que o franzino e tímido Dega é levado, por desespero, a agir de forma intensamente agressiva, o corpo todo dele vende para o espectador o irreversível passo tomado em direção à loucura.
Outro elemento extremamente competente é a trilha sonora de David Buckley, que, trilhando caminho oposto ao que se espera hoje no gênero, aquele som genérico modernista, barulhento e frenético, aposta surpreendentemente no minimalismo elegíaco reverente, com uso inspirado de um coral que remete imediatamente à época áurea do cinema, quando compositores tinham bagagem refinada, não eram DJ’s imediatistas. Esta opção aproxima a refilmagem do original, que tinha uma trilha valseada magnífica do saudoso mestre Jerry Goldsmith, também conectada de forma intimista ao personagem principal.
O novo “Papillon” não tem como proposta a substituição, como parecem crer alguns profissionais da crítica, colegas aprisionados à nostalgia que escreveram resenhas bem negativas, tendo como critério apenas a comparação. Como produto de entretenimento, funciona extremamente bem, o resultado é acima da média. E, principalmente, serve como ponte para que a nova geração conheça o filme original e o maravilhoso livro de Henri Charrière.
Cotação:
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