Críticas

Crítica de “O Primeiro Homem”, de Damien Chazelle

O Primeiro Homem (First Man – 2018)

A vida do astronauta norte-americano Neil Armstrong (Ryan Gosling) e sua jornada para se tornar o primeiro homem a andar na Lua. Os sacrifícios e custos de Neil e toda uma nação durante uma das mais perigosas missões na história das viagens espaciais.

Após ver o filme, senti vontade de ler a biografia original “O Primeiro Homem: A Vida de Neil Armstrong”, escrita por James R. Hansen, até para agregar à crítica. Sempre fui fascinado pelo tema, como um apaixonado por ficção científica desde menino e que teve Carl Sagan como ídolo na adolescência, adquiri o eBook e devorei em três dias.

O evento histórico envolvia muito mais que política, não era apenas um passo importante na exploração espacial, falava diretamente à criança interna de todos aqueles que, à época, demonizavam os Estados Unidos pela atuação no Vietnã, um insuperável sinal de esperança em meio ao caos, simbolizado pelo pequeno disco de silício deixado no Mar da Tranquilidade por Armstrong e Buzz Aldrin, contendo mensagens microscopicamente inscritas de boa vontade de líderes de 73 países. O ato de atravessar quase quatrocentos mil quilômetros e pisar na Lua, aquela fonte de inspiração etérea que marcava presença em várias lendas desde o início dos tempos, representava a realização dos sonhos mais impossíveis para os adultos daquela geração. E o tímido jovem Armstrong, apaixonado pela aviação desde pequeno e frustrado na adolescência por constatar que todos os recordes aeronáuticos já haviam sido batidos, assim como seus colegas, virou um herói nacional ao superar todos os seus ídolos. Hollywood, seis anos após seu falecimento, finalmente honra seu legado.

O filme infelizmente falha na abordagem morna, com estética indie e distanciamento emocional, do primeiro ato focado no cotidiano comum/familiar do protagonista. É clara a proposta do roteirista Josh Singer de desromantizar o aspecto fantástico, opção questionável, mas ele exibe neste projeto mais características presentes em seu fraco trabalho no superestimado “Spotlight – Segredos Revelados”, do que o equilíbrio tonal que alcançou no ótimo “The Post – A Guerra Secreta”. Há momentos de ternura tão artificializada, como o clássico toque sutil do pai no cabelo da filha pequena, que caberiam perfeitamente nos trabalhos recentes de Terrence Malick, artifícios visuais desgastados que buscam mais os aplausos dos críticos pseudointelectuais do que o carinho do público. Em outros, quando ele tenta inserir alívios cômicos, soa absurdamente tolo, como na cena em que é explicada na lousa a rota da Terra à Lua, com o instrutor pedindo que outra lousa seja colocada ao lado, já que o giz alcançou o limite da tela. A intenção, simbolizada na situação escolhida para o desfecho, parece ser explorar os meandros íntimos do indivíduo, mas a execução (por exemplo, a câmera colada nos rostos, decisão apropriada para uma sessão no smartphone, mas frustrante na tela grande) aposta quase sempre em jogar mais sombra nas motivações dele, dificultando a identificação, em suma, jogando contra o objetivo, tornando-o ainda mais inalcançável/indecifrável do que se imaginaria no início. A entrega perenemente macambúzia de Ryan Gosling completa esta equação desumanizante.

As sequências espaciais são o grande mérito da obra, impecáveis em todos os sentidos, como não poderia deixar de ser. É impressionante como o design de som ajuda na imersão claustrofóbica, você realmente consegue se sentir dentro da cápsula, compartilhando a tensão e o encantamento amedrontador de enxergar um mundo novo. Mas o material humano, elemento fundamental, nunca decola.

Cotação: 

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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