Thor: Ragnarok (2017)
Thor (Chris Hemsworth) está preso do outro lado do universo. Ele precisa correr contra o tempo para voltar a Asgard e parar Ragnarok, a destruição de seu mundo, que está nas mãos da poderosa e implacável vilã Hela (Cate Blanchett).
Apesar de ser amado por adolescentes no mundo inteiro, analisando friamente, o Universo Cinematográfico Marvel dificilmente sobreviverá ao teste do tempo, com algumas raras exceções, “Guardiões da Galáxia”, “Pantera Negra”, “Homem de Ferro” e “Thor: Ragnarok”, não por coincidência, os títulos que sobrevivem sozinhos narrativamente e que carregam a forte marca autoral de seus diretores.
O quarto, uma homenagem divertidíssima de Taika Waititi, neozelandês responsável por pérolas cômicas como “O Que Fazemos nas Sombras” e “A Incrível Aventura de Rick Baker” ao legado de Stan Lee e Jack Kirby, que, não apenas desconstrói o protagonista, mas também sabe rir do próprio universo em que está inserido. E ter a presença sempre fascinante de Jeff Goldblum no elenco, completamente sintonizado com o clima da história, claro, ajuda bastante. O seu Grão-Mestre é uma força da natureza que parece rir de cada diálogo com sutis olhares e gestos, mais confortável em cena que o próprio Hemsworth. Tessa Thompson, vivendo a guerreira Valquíria, merece destaque por roubar todas as cenas em que participa, assim como a sempre competente Cate Blanchett, que também capta perfeitamente a essência da brincadeira, vivendo Hela, uma deusa da morte extremamente sensual.
O grande acerto do roteiro de Eric Pearson, Craig Kyle e Christopher L. Yost é, desde o primeiro momento, jogar para o alto o tom sisudo que dominava os dois projetos anteriores, abraçando sem culpa o senso de humor do diretor, redefinindo as personalidades dos personagens, tirando um sarro dos absurdos inerentes às epopeias espaciais da Marvel nos quadrinhos e, acima de tudo, da própria fórmula desgastada do estúdio no cinema. E, mérito que merece ser salientado, com um profundo respeito pelo material original. Sim, os adultos de hoje pode declarar sem medo o amor por estes super-heróis, mas o público-alvo destas histórias sempre foi o pré-adolescente. O filme respeita este elemento e entrega momentos hilários, como o impulso corajoso do franzino Bruce Banner (Mark Ruffalo) ao avançar contra a gigantesca besta inimiga no terceiro ato, pulando da nave, acreditando que a sua transformação em Hulk aconteceria no ar, apenas para se arrebentar no solo em sua forma frágil.
O adulto chato que reclamou da proposta da obra precisa se encarar no espelho e entender que está buscando maturidade no lugar errado, em uma trama solar protagonizada por um deus do trovão e um homem que vira um monstro verde quando fica com raiva. “Thor: Ragnarok” bebe de algumas fontes, como a fase do herói nas mãos de Walt Simonson, mas, analisando as reviravoltas da trama e o design de produção deliciosamente exagerado, é, de certa forma, o primeiro filme da Marvel que verdadeiramente honra em espírito o legado criativo dos clássicos de Stan Lee e Jack Kirby.
Cotação:
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