Críticas

Crítica de “O Ódio Que Você Semeia”, de George Tillman, Jr.

O Ódio Que Você Semeia (The Hate U Give – 2018)

Starr Carter (Amandla Stenberg) é uma adolescente negra de dezesseis anos que presencia o assassinato de Khalil, seu melhor amigo, por um policial branco. Ela é forçada a testemunhar no tribunal por ser a única pessoa presente na cena do crime. Mesmo sofrendo uma série de chantagens, ela está disposta a dizer a verdade pela honra de seu amigo, custe o que custar.

O clima é daqueles típicos filmes adolescentes bobinhos, várias tiradas espirituosas já nos primeiros doze minutos, mas o tema é sério, as consequências psicológicas do racismo. As intenções são as melhores possíveis, o roteiro sem brilho de Audrey Wells, que adapta o livro homônimo de estreia de Angie Thomas, não deixa você esquecer disto sequer por um momento, só que o tempo vai passando e o texto jamais se aprofunda no desenvolvimento da jovem protagonista, vivida com extrema competência por Amandla Stenberg. Se há sequências que geram alguma emoção genuína, o mérito é todo dela.

Wells, dos apelativos “Quatro Vidas de Um Cachorro”, “Sob o Sol da Toscana” e que conseguiu retirar o charme do lindo original japonês na refilmagem de “Dança Comigo?”, repete desta feita os mesmos atalhos narrativos nada sutis, reduzindo todos os personagens à caricaturas dignas de literatura infanto-juvenil de pouca qualidade. Prejudicando ainda mais o resultado, a mão leve do diretor George Tillman Jr., que só acertou no genérico de “A Força do Destino”, o bom “Homens de Honra”, lançado dezoito anos atrás, falha em retirar do material o jeitão folhetinesco teen.

A fotografia do romeno Mihai Malaimare Jr., normalmente criativo em parcerias com Paul Thomas Anderson (em “O Mestre”) ou Francis Ford Coppola (em “Tetro” e “Virgínia”), parece ter sido contaminado pela apatia da produção e encara a tarefa com o mesmo pensamento binário do roteiro, contrastando radicalmente na paleta de cores o ambiente opressivo (filtro azulado) da escola dominada pelos brancos e a afetuosa/calorosa (filtro alaranjado) periferia.

O filme vai receber muitos elogios, até porque, nos tempos melindrosos em que vivemos, quem ousaria criticar um produto com esta temática? Como só me importa na análise a eficiência da obra em sua proposta, não posso fechar os olhos para seus vários problemas.

Cotação: 

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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