Climax (2018)
Nos anos 90, um grupo de dançarinos urbanos se reúne em um isolado internato, localizado no coração de uma floresta, para um importante ensaio. Ao fazerem uma última festa de comemoração, eles notam a atmosfera mudando e percebem que foram drogados quando uma estranha loucura toma conta deles. Sem saberem o por quê ou por quem, os jovens mergulham em um turbilhão de paranoia e psicose. Enquanto para uns parece o paraíso, para outros é como uma descida ao inferno.
“Climax” é mais um acerto da produtora A24 e, principalmente, um retorno promissor de seu diretor, o argentino Gaspar Noé, após o fraquíssimo “Love” (2015). Apesar de contar com poucos longas no currículo, ele conseguiu marcar sua corajosa assinatura autoral em pérolas controversas como “Sozinho Contra Todos” e “Irreversível”. É louvável que ele não tenha amenizado a pegada brutal neste novo trabalho, que explode na metade final, o coração pulsante ainda é essencialmente underground, logo, pode afastar aqueles que não estão acostumados com o seu estilo.
O roteiro de apenas cinco páginas, experimentalismo que é defendido por um grupo de dançarinos, aborda nos primeiros quarenta minutos a beleza da coreografia dos corpos, a ilusão de autocontrole. A catarse de desconstrução que se segue é intensificada de forma nauseante pelas opções estéticas, com a utilização nada tímida da câmera subjetiva, apostando em ângulos desnorteantes e planos-sequência audaciosos, buscando inspiração no excelente “Possessão”, de Andrzej Zulawski, com o vermelho dominando a fotografia de Benoît Debie no auge lisérgico, referência ao “Suspiria”, de Dario Argento.
O pesadelo que Noé cria é verdadeiramente insuportável, exatamente porque conta com a identificação imediata do público. E, toque brilhante que fica subentendido em revisão, não é o ambiente fechado que metaforicamente encapsula as frustrações projetadas nas drogas (pense na situação em que a única criança no local é colocada), a dor é apenas anestesiada, um fogo que o indivíduo tenta apagar com querosene pela negação da responsabilidade.
Na deturpação coletiva, uma alegoria ao colapso de uma sociedade cada vez mais imediatista, desesperada por prazeres frágeis, vazios, seduzida facilmente por qualquer válvula de escape.
Cotação:
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