Uma Página de Loucura (Kurutta ippêji – 1926)
É curioso pensar que esta pérola ficou perdida por quarenta e cinco anos, até que seu diretor a encontrou no seu armazém em 1971, uma versão incompleta, mas, ainda assim, espetacular, com óbvia inspiração no clássico do expressionismo alemão: “O Gabinete do Dr. Caligari” (1920), de Robert Wiene.
Após conseguir um contrato de distribuição com a produtora Shochiku, o diretor lutou para se manter vivo financeiramente, com a ajuda do próprio elenco, que se colocava à disposição até para pintar os cenários, acreditando na qualidade da obra.
A ausência de intertítulos, agregando ao estilo experimental trabalhado por Teinosuke Kinugasa, reforça a atmosfera sombria da narrativa que, sem exagero, parece saída dos recônditos da deep web.
As imagens são perturbadoras, não por menos, acompanhamos os delírios de pacientes de um manicômio (numa crítica à forma como eles eram tratados na sociedade), como a jovem que dança aprisionada em seu quarto de isolamento, tendo como acompanhamento sonoro os trovões da chuva intensa que castiga o ambiente externo.
Os ângulos enviesados, refletindo a distorção mental, abusando da edição frenética da montagem soviética (de forma inconsciente, já que os medalhões de Eisenstein só foram exibidos no Japão na década de 60), facilitam a imersão sensorial imediata do espectador.
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