O Candidato Honesto 2 (2018)
O político corrupto João Ernesto Praxedes (Leandro Hassum) é agora expulso do governo após cair em uma nova crise de honestidade e revelar todos os seus esquemas de corrupção.
Na entrevista que fiz com o competente roteirista Paulo Cursino, mencionei que “O Candidato Honesto” era a minha comédia favorita protagonizada pelo Leandro Hassum, exatamente pela qualidade do texto, mas a opção por uma estrutura de esquetes nesta continuação prejudica o resultado. O senso de unidade na trama enxuta do original se perde, a pretensão de tocar no máximo possível de gatilhos de identificação com a situação política nacional impõe prazo de validade em várias piadas.
Há mérito ao rir de caricaturas de heróis da esquerda e da direita, mas o melhor ponto do roteiro é focar no podre sistema, no mecanismo sujo do jogo de poder. Quando o protagonista discursa solenemente quebrando a quarta parede, diretamente para o público, “não acredite em políticos que não assumem suas falhas”, o leitmotiv da honestidade se firma como elemento crítico coerente e lúcido, simbolizado também na escolha do homenageado para representar a imprensa, o âncora de rádio vivido por Leonardo Franco, inspirado claramente no saudoso Ricardo Boechat.
Outro ponto positivo é o interlúdio metalinguístico ambientado na sala de exibição de filmes do presidente, em que Hassum faz graça com a percepção dos críticos com seu trabalho no cinema, aproveitando para injetar um deboche certeiro no material umbilical e enfadonho que usualmente é celebrado pelos mesmos profissionais. Utilizando o humor, veículo mais eficiente e contundente, esta sequência desconstrói em poucos minutos a exagerada bajulação acadêmica com o Cinema Novo, ou, como o personagem diz durante o trecho inserido nos créditos finais, filmes em que a câmera fica “cinco minutos numa gota caindo”, até que alguém na plateia aplaude e grita: “Genial”. Cursino inteligentemente segue na linha do politicamente incorreto, mas poderia ter evitado a totalmente desnecessária gag com flatulência, apelando para o humor mais rasteiro, recurso tão nocivo às comédias nacionais quanto as tais “gotas caindo” dos filmes amados pelos pseudointelectuais.
Se o fraco documentário “O Processo”, de Maria Augusta Ramos, inconscientemente mostrou como o panfletarismo fragiliza o debate, deixando à mostra as cordas do titereiro na fabricação da narrativa do lado interessado na vitimização, a participação brilhante de Cássio Pandolfi e Mila Ribeiro, respectivamente satirizando Michel Temer e Dilma Rousseff nesta comédia oficial, abraça a teatralidade patética destas figuras produzidas por uma sociedade que precisa desesperadamente amadurecer sua forma de pensar (e fazer) política.
O protagonista, ao final da jornada, perde o otimismo que o guiava no original, toque bacana, nada mais justo, já que não existe maneira de sair limpo de um banho no rio de lama. Esta opção demonstra maturidade, fechando o arco narrativo de João com segurança.
Cotação:
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