Se a Rua Beale Falasse (If Beale Street Could Talk – 2018)
No Harlem, uma jovem (KiKi Layne) grávida de seu primeiro filho se esforça desesperadamente para provar que seu noivo (Stephan James) é inocente de um crime.
O roteirista/diretor Barry Jenkins surpreendeu o mundo com o encantador “Moonlight”, mas erra a mão desta feita em uma história, baseada em livro homônimo de James Baldwin, contada de forma irritantemente convencional. Há delicadeza, ternura, mas são elementos que brotam diretamente do material trabalhado, por natural empatia do espectador com o drama apresentado, nunca potencializados pela tímida execução.
Os diálogos, em vários momentos, são solenes e artificiais, recurso que cabe no teatro, mas é destruidor na linguagem cinematográfica; não há desenvolvimento narrativo com o casal protagonista, ocorre uma espécie de mitificação estética, opção arriscada que valoriza mais a beleza da moldura, do que o envolvimento emocional do público com a pintura, algo que é prejudicado pela longa duração, com um segundo ato verdadeiramente arrastado.
O tom poético que funcionava muito bem em “Moonlight”, exatamente porque lá havia a preocupação em construir um protagonista complexo, com várias camadas, acentua neste novo projeto todos os seus defeitos, já que, com exceção de uma inspirada Regina King, vivendo a mãe da jovem, estamos diante de caricaturas. Ao final da experiência, não há como negar a qualidade técnica, figurinos, reconstrução de época, mas é frustrante que uma história tão bonita soe tão fria, distante.
A sofisticação exagerada, talvez buscando o apreço dos acadêmicos e o aval das premiações, pecou por se esquecer do mais importante em uma obra artística: o coração precisa pulsar.
Cotação:
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