Volte no tempo comigo, estamos no início da década de 80, o conceito de se apreciar cinema se reduzia à sessão na sala escura e aquela possibilidade remota do filme passar nos poucos canais de televisão.
Os mais devotados conseguiam revistas importadas que transformavam a obra em uma espécie de fotonovela, uma maneira primitiva de “rever”, matar a saudade. A chegada do VHS e a popularização dos aparelhos foi um turning point de valor inestimável. Você não precisava mais perguntar aos seus avós sobre a história dos filmes antigos, bastava uma ida à locadora de vídeo.
O que poucos lembram é que, apesar de todo falatório hoje sobre o consumo cultural ilegal na internet, que vejo como algo positivo, já que possibilita acesso a praticamente todos os filmes, nós, amantes brasileiros desta arte, temos que agradecer muito à pirataria.
Há um bom documentário recente nacional que aborda este tema, “Cinemagia – A História das Videolocadoras de São Paulo”, de Alan Oliveira. Sem as fitas piratas, as locadoras jamais engatariam no mercado. E, mais importante, vários títulos que apareciam nas prateleiras nunca foram relançados em versões seladas (oficiais), nem mesmo em DVD, como este filme abaixo, que conheci na pré-adolescência.
Quackser Fortune Has a Cousin in the Bronx (1970)
Um casal de classe operária de Dublin tenta convencer seu filho (Gene Wilder) a arranjar um emprego que lhe dê mais benefícios, mas o garoto se contenta em continuar com a sua função de recolher esterco de cavalo para vender para floristas. Sua rotina só muda quando ele conhece uma jovem (Margot Kidder) norte-americana, por quem se apaixona.
Esta pérola cômica foi pensada para ser dirigida por Jean Renoir, acabou nas mãos de Waris Hussein, teve o roteiro de Gabriel Walsh indicado para o prêmio do sindicato dos roteiristas, mas hoje é esquecida até mesmo pelos fãs do saudoso Gene Wilder, que vive Quackser Fortune, um irlandês de meia-idade dominado pela mãe que ganha a vida de maneira exótica, coletando e vendendo fertilizante.
Ele passa seus dias seguindo cavalos nas ruas de Dublin com seu carrinho. A vida dele muda quando é quase atropelado por uma estudante norte-americana, vivida pela adorável Margot Kidder.
A entrega do ator é perfeita, aquele misto de vulnerabilidade emocional e histeria, especialidade dele, garante momentos hilários, como quando ele, na mesa do café da manhã, quebra o ovo dentro da bolsa da mãe, depois finge que está eliminando uma mosca, ou, mais tarde, quando seduz desajeitadamente uma vizinha, enquanto satisfaz o pedido dela, de colocar um pouco de fertilizante na terra das plantas de sua janela.
O arco narrativo do personagem é encantador, ele está acomodado em sua situação, a função que decidiu exercer na sociedade é uma alegoria perfeita para sua apatia e intensa dependência. Quackser descobre que precisa se apaixonar, ele precisa se permitir, para que se inspire a se aventurar fora de sua zona de conforto.
Graças à internet (a obra é facilmente encontrada), pude rever depois de muitos anos esta joia injustamente esquecida na carreira de Wilder.
Cotação:
Gladiador 2 (Gladiator 2 - 2024) Lúcio (Paul Mescal) deve entrar no Coliseu após os…
Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…
Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…
No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não…
Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…
No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não…