O Cair das Folhas (Falling Leaves – 1912)
Quase sempre eclipsada por Georges Méliès nas páginas da história, Alice Guy Blaché teve papel fundamental no processo inicial de amadurecimento desta arte, fazendo questão de manter total controle criativo em suas produções, da escolha de figurinos, passando pela seleção de elenco, até a pesquisa para encontrar as locações adequadas.
A trama simples evoca a pureza da criança. Ao escutar o médico da família informar elegantemente que sua irmã mais velha, com tuberculose, “morrerá ao cair da última folha de outono”, a pequena, vivida por Magda Foy, idealiza um plano para impedir a fatalidade, ela inocentemente utiliza fios de barbante para prender as folhas nos galhos e devolver aquelas que já haviam caído. A linda atitude impulsiva da menina, deixando a cama e desobedecendo a ordem dos adultos, possibilita que seu caminho se cruze por acaso com o de um médico que passeava na região.
Ao revelar a razão por trás de seu gesto exótico, ele, que estava trabalhando em uma cura, vai ao encontro da enferma, conduzido pela mão daquela corajosa menina de seis anos de idade que ousou lutar contra algo que era tido como impossível pelos mais velhos. A poética inocência venceu o medo. A opção pela naturalidade nas atuações, marca registrada da diretora, garante alguns momentos encantadores.
A Sorridente Madame Beudet (La Souriante Madame Beudet – 1923)
A diretora Germaine Dulac examina os pensamentos, sonhos e tendências homicidas de uma mulher presa em um casamento com um homem desprezível. Apesar de suas inspirações surrealistas, a obra é plenamente acessível, e, principalmente, segue fascinante nos dias de hoje. É ousado por tratar do tema em um período profundamente machista, evidenciando na figura do marido o típico manipulador tóxico, que, ao primeiro sinal de rejeição, apela para a tortura psicológica, insinuando que quer tirar a própria vida. A solução do roteiro para este artifício é simplesmente sensacional.
O Teto (Strop – 1962)
A diretora tcheca Věra Chytilová é muito pouco lembrada, mas seus trabalhos são instigantes de uma forma muito particular, mais próxima do minimalismo de Antonioni, com grande influência de sua origem como estudante de filosofia. A mistura de formalismo e cinéma vérité em “O Teto”, curta de graduação dela, expõe a vida interna de uma jovem que abandona o futuro mais seguro como médica para investir tudo em seu sonho como modelo. Ao isolar a personagem cada vez mais, até mesmo na forma, sem dar espaço para que ela fale, sempre submissa, a cineasta critica com elegância a representatividade da mulher na sociedade.
A Casa é Escura (Khaneh Siah Ast – 1963)
AVISO: As imagens do filme podem ser consideradas fortes para algumas pessoas mais sensíveis.
A poetisa/cineasta iraniana Forugh Farrojzad faz algo único neste documentário sobre uma colônia de leprosos situada no norte do Irã, utiliza as imagens impactantes da realidade dos doentes como ferramenta para instigar uma reflexão importante sobre valores equivocados, com ênfase na cena impressionante em simbologia em que um grupo de leprosos ora para um deus misericordioso. O mais bonito é o destaque dado à alegria daquelas pessoas, a forma que elas encontram para seguir com esperança uma jornada de extrema dificuldade. “Não existe falta de feiura no mundo. Se o homem fizesse vista grossa para isto, haveria mais feiura ainda.”
A Cabine (La Cabina – 1972)
Se você gosta da série “Black Mirror”, precisa ver “A Cabine”, de Antonio Mercero, uma injustamente esquecida alegoria ao regime franquista. Até mesmo uma pegadinha antiga do Silvio Santos buscou inspiração neste curta espanhol maravilhoso em que um homem fica enigmaticamente preso dentro de uma cabine telefônica e ninguém consegue tirá-lo. É cômico, mas tem traços de terror psicológico, uma aula deliciosamente angustiante de como construir suspense com um orçamento baixíssimo.
Jurado Nº 2 (Juror #2 - 2024) Pai (Nicholas Hoult) de família serve como jurado…
Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…
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