Críticas

“Assim Estava Escrito”, de Vincente Minnelli

Assim Estava Escrito (The Bad and The Beautiful – 1952)

O roteiro de Charles Schnee, baseado na obra de George Bradshaw, relata a ascensão e queda de um poderoso e tirânico magnata de Hollywood, abordando como eram feitas as produções atrás das câmeras, o funcionamento e a atmosfera no mundo do cinema.

Um cenário rico que já foi explorado em grandes filmes, como “O Jogador”, de Robert Altman, e “A Noite Americana”, de François Truffaut. O diretor Vincente Minnelli, antes de iniciar carreira em Hollywood, sentia que os musicais estavam dominados por clichês, e ele passou a maior parte da década de 1930 revitalizando o gênero nos palcos de Nova Iorque. Por isso, quando o lendário produtor Arthur Freed o retirou da Broadway em 1940, ele fez um acordo incomum: Minnelli iria simplesmente observar (sendo remunerado) nos bastidores de uma produção musical por um ano. Caso ele não se convencesse de que havia possibilidade de revitalizar o gênero, ele voltaria para os palcos.

O resultado: ele criou nos anos seguintes alguns dos melhores musicais da história do cinema. A experiência que ele obteve durante aquele ano, como observador nos bastidores da indústria, serviu como modelo para o excelente “Assim Estava Escrito”, um estudo antropológico sobre esta fábrica de sonhos.

O personagem de Kirk Douglas é uma versão do produtor David O. Selznick, um homem intensamente criativo e apaixonado pela sétima arte, que inspirava lealdade e ódio, sabendo manipular qualquer pessoa que necessitasse para seus objetivos. Ele é megalomaníaco, tem um senso distorcido de moral e desconhece o conceito de ética profissional, mas sabe como mover a engrenagem do sucesso, ele reconhece a beleza que nasce do atrito artístico.

A trama segue os pontos de vista de três desafetos do produtor, uma atriz (Lana Turner), um roteirista (Dick Powell) e um diretor (Barry Sullivan), totalmente desinteressados em ajudar o protagonista em uma crise financeira. Há uma compreensível inconsistência de ritmo, a estrutura de antologia cansa um pouco o espectador durante o segundo ato, mas o interesse é mantido graças à força do elenco.

A linda fotografia de Robert Surtees, em preto e branco, capta a melancolia do crepúsculo daquela velha Hollywood, como no maravilhoso “Crepúsculo dos Deuses”, que também fazia uso da narrativa alicerçada por flashbacks. É interessante como Minnelli encontra nobreza até mesmo nas atitudes mais equivocadas do personagem, quase como se ele enxergasse suas atitudes como um mal necessário para sobreviver na indústria, algo que só é possível ser transmitido com o auxílio de um competente ator.

Kirk Douglas compreende as motivações de Jonathan Shields, enriquecendo sua caracterização ao nunca pender para a caricatura odiosa, opção que seria mais fácil.

Cotação: 

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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