Crítica do documentário “Mussum – Um Filme do Cacildis”, de Susanna Lira

Mussum – Um Filme do Cacildis (2019)

A trajetória do humorista e sambista Antônio Carlos Bernado Gomes, o “Mussum”, é contada de diferentes ângulos. São reveladas facetas mais sérias da figura que foi eternizada no imaginário popular brasileiro por sua participação no programa “Os Trapalhões”.

Um delicioso acerto logo no início é buscar inspiração no clássico curta brasileiro “Ilha das Flores”, de Jorge Furtado, brincando com o estilo de narração alicerçada em analogias, estabelecendo com segurança o tom da obra até o bonito desfecho, coerente com o espírito descontraído do homenageado.

Ao ousadamente evitar o foco excessivo na faceta artística mais conhecida dele, opção que teria sido comercialmente confortável, preguiçosa, o roteiro de Bruno Passeri e Michel Carvalho ganha pontos por salientar que seu sucesso, tendo transcendido a seara da comédia televisiva e cinematográfica, entrando décadas após seu falecimento no inconsciente coletivo da cultura pop/geek, foi apenas a consequência natural de uma personalidade maior que seu tempo, o Antônio Carlos Bernardes Gomes é muito mais interessante que o “Mussum”.

Alguém de origem extremamente humilde e que nunca se vitimizou, nunca aceitou ser reduzido a qualquer estereótipo, estudou, trabalhou, soube se reinventar em vários momentos e venceu na vida com o carisma arrebatador de quem colocava o coração no comando de tudo o que fazia. O público de todas as idades e classes sociais reconhecia imediatamente esta honestidade criativa, acabava se identificando com sua entrega apaixonada, tanto na música quanto no humor.

Com rico material de arquivo, narração competente de Lázaro Ramos, trilha sonora afiada de Pretinho da Serrinha, uma duração inteligentemente enxuta e a direção sensível de Susanna Lira, “Mussum – Um Filme do Cacildis” é uma aula de como realizar um documentário respeitoso e, ainda assim, revelador, sobre uma figura tão marcante na história artística de um país usualmente tão displicente com sua memória cultural.

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