Por Um Punhado de Dólares (Per un Pugno di Dollari – 1964)
Um pistoleiro sem nome (Clint Eastwood) chega a uma cidade que está vivendo um conflito. Quando percebem o seu potencial, ambas as partes se interessam por contratá-lo; é quando ele percebe que pode ganhar dinheiro com a situação aceitando a proposta dos dois lados.
Utilizando “Yojimbo”, de Akira Kurosawa, como inspiração máxima, com baixíssimo orçamento, e apropriando-se com segurança e extrema personalidade do tradicional gênero faroeste norte-americano, o italiano Sergio Leone, com o auxílio sensorial primoroso do compositor Ennio Morricone e a presença imponente de Clint Eastwood, simplesmente carregou nas costas a indústria cinematográfica de seu país, criando o conceito do spaghetti western, sujo, com moral dúbia, contundente, e atraindo o interesse do mundo todo, abrindo caminho para colegas como Sergio Corbucci, Damiano Damiani, Sergio Sollima, Tonino Valerii (que começou como assistente de direção em “Por Um Punhado de Dólares”), Giorgio Ferroni, Giulio Petroni, Lucio Fulci (que depois viria a ser reconhecido como mestre do terror), Enzo Barboni, Enzo Castellari e Gianfranco Parolini, entre tantos outros.
Ao chegar no vilarejo, saciando sua sede, o homem sem nome encontra um povo amedrontado, sem voz, dominado por duas famílias, os Baxters e os Rojos, localizados à direita e à esquerda da cidade, alegoria sutil ao sistema político que oprime e busca apenas o benefício próprio.
A imagem que desperta sua curiosidade é a de uma criança que tenta desesperadamente entrar no ambiente em que uma enigmática mulher parece se esconder. Ele ri pela audácia do pequeno, mas, logo depois, fica assustado com o tratamento que os donos do local reservam à ele, que é literalmente chutado para fora, com direito a tiros de alerta para que nunca mais retorne. É o bastante, aquela figura quase sobrenatural cujo passado nunca é revelado pelo roteiro, com uma expressão perene de desgosto, sem pensar duas vezes, decide fazer contato com aquela realidade.
Ramón, vivido por Gian Maria Volonté, logo se estabelece como o principal responsável pelo caos, um homem sem escrúpulos que sequestrou a bela Marisol (Marianne Koch), que se tornou sua amante forçada, consciente de que se ela o recusar, coloca em risco a vida de seu filho e de seu marido.
Ele é vaidoso, confia demais em sua habilidade com a Winchester, certeiro, atira apenas no coração de suas vítimas. O forasteiro pouco fala, inteligente, faz amizade com o dono do saloon, Silvanito (José Salvo), com quem compartilha sua estratégia de ataque, conquistar a confiança dos líderes e minar as forças dos dois grupos.
A grande questão é: o objetivo dele era puramente financeiro, já que recebia punhados de dólares por cada passo dado na missão, ou havia um cerne altruísta e emotivo, despertado pela imagem da criança no início.
A dor do pequeno Jesus, nome coerente com a proposta alegórica, representou para ele a ativação do senso de oportunidade, ou, como o roteiro timidamente insinua em uma cena, fez ele se identificar com algo ocorrido em seu passado? Ao se colocar em perigo para libertar aquela família, símbolo de pureza no inferno que se transformou a cidade, ele abraça a desolação total, a desesperança, após a vida ter sido aniquilada gradativamente pelos dois poderes. O único que se dá bem ali é o idoso que trabalha preparando os caixões e conduzindo os falecidos para o repouso final.
É curioso pensar que Clint, aos 33 anos de idade, aceitou o papel na época sem qualquer pretensão, apenas para aproveitar a viagem para a Itália e a Espanha. A sua carreira até o momento se resumia a participações inglórias em fitas B e seriados, nas horas vagas trabalhava construindo piscinas nas mansões dos astros de Hollywood.
O sucesso retumbante do filme colocou seu nome em destaque, ele se tornou uma lenda do gênero e, mais que isto, um diretor respeitadíssimo.
Cotação:
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