Cobra Kai – Segunda Temporada (2019)
Após uma primeira temporada brilhante, seria difícil manter o mesmo nível de excelência, mas é impressionante como os novos dez episódios conseguem equilibrar a nostalgia respeitosa e o desenvolvimento dos personagens, não apenas Daniel (Ralph Macchio) e Johnny (William Zabka), como também o núcleo adolescente, especialmente Sam (Mary Mouser) e Robby (Tanner Buchanan). A inclusão da casca-grossa Tory (Peyton List) representa a negação sem culpa da afabilidade social, a bully que esconde em seu cerne profunda insegurança.
Se desta vez não há uma catarse emocional realmente poderosa, como a homenagem à Pat Morita no ano anterior, os roteiristas compensam abraçando sem medo a característica mais marcante de “Cobra Kai”, remando contra a maré de franquias que renascem pomposas se levando muito a sério e, por conseguinte, desprezando os fãs, uma espécie de breguice consciente que está presente em tudo, da forma caricata como Martin Kove devora cada segundo em cena, revivendo o maquiavélico sensei John Kreese, passando pela coreografia exageradamente teatral nas sequências de luta, até o folhetinesco e adorável gancho para a próxima temporada, que, felizmente, já recebeu sinal verde.
Ao pegar o conceito da trilogia original (sim, até a trama do controverso terceiro projeto é respeitada) e aprofundar as questões tocando nas áreas cinzentas, desconstruindo o heroísmo e a vilania, criando situações espirituosas para que os protagonistas entrem em confronto verbal, a trama conquista até mesmo quem não tem familiaridade com a franquia. Você vê todos os episódios em sequência durante uma tarde e termina satisfeito, querendo mais, algo raro.
Johnny luta para retomar o controle emocional, repudiando os ensinamentos tortos de seu antigo mentor, enquanto tenta se permitir ser vulnerável, apostando na possibilidade romântica com a vizinha. Daniel, por outro lado, carrega com orgulho a responsabilidade de levar adiante o legado de seu mestre, prejudicando até mesmo seu relacionamento familiar, tentando fazer o mundo acreditar novamente nos valores que forjaram seu caráter na década de oitenta.
A alegoria é clara, o dedo apontado em riste para o público. A cena em que sua exibição tranquila de karatê em um festival é interrompida pelo show de agressividade de Johnny e seus alunos, com destaque para a reação da plateia, que vibra intensamente, evidencia a crítica à dessensibilização da sociedade, que hoje trataria com deboche e cinismo a fala mansa e a filosofia pacífica do Sr. Miyagi.
Há espaço ainda para os bons valores e a simplicidade despretensiosa? O sucesso da série é a resposta esperançosa para esta questão.
Cotação:
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