Toy Story 4 (2019)
Agora morando na casa da pequena Bonnie (Madeleine McGraw), Woody (Tom Hanks) apresenta aos amigos o novo brinquedo construído por ela: Garfinho (Tony Hale), baseado em um garfo de verdade. O novo posto de brinquedo não o agrada nem um pouco, o que faz com que Garfinho fuja de casa. Decidido a trazer de volta o atual brinquedo favorito de Bonnie, Woody parte em seu encalço e, no caminho, reencontra Bo Peep (Annie Potts), que agora vive em um parque de diversões.
A brilhante terceira incursão fechou tão bem a trama iniciada em 1995, tudo levava a crer que este novo capítulo seria apenas uma escolha comercial de lucro fácil, algo sem sentido e que, com sorte, não mancharia a reputação dos anteriores. Ao final da sessão, profundamente emocionado, fico feliz em afirmar que, contra todas as probabilidades, “Toy Story 4” é uma peça fundamental que expande os temas já trabalhados e acaricia os fãs com uma execução extremamente competente. A direção do estreante Josh Cooley privilegia o ritmo frenético, não há gordura extra, todas as cenas servem ao propósito de avançar a narrativa.
A pequena Bonnie teme a vida fora do conforto de sua casa, o jardim de infância é um terreno inexplorado com crianças das mais variadas bases educacionais familiares, logo, quando se depara com a crueldade, ela se refugia no lúdico, criando um boneco a partir de um garfo de plástico e barbante, elementos dispensáveis. Garfinho, desconhecendo a noção de afeto, busca o mais próximo que conhece de uma zona de conforto, a cesta de lixo, dando luz à vários momentos hilários na jornada.
A forma como o roteiro de Andrew Stanton e Stephany Folsom brinca com esta alegoria psicológica é tocante, evidenciando o leitmotiv da necessidade de se adaptar à realidade, por pior que ela seja, como etapa importante no amadurecimento emocional, rejeitando rótulos e abraçando a constante transformação interna. Woody tenta a todo custo proteger sua nova dona, mantendo em segurança o frágil Garfinho, mas o filme gradativamente nos surpreende (opção mercadologicamente ousada) com a compreensão de que adultos seguros e socialmente saudáveis não são forjados em ambientes superprotegidos.
Se a franquia já mostrou diversas vezes as consequências negativas do abandono, agora ela vai muito além, ensinando, principalmente através da boneca Bo Peep, que a solidão pode ser o gatilho para algo novo e positivo, ela fortalece o espírito, disciplina o caráter, um viés simbolicamente poderoso em um projeto direcionado principalmente ao público infanto-juvenil. Até mesmo a figura do vilão, outrora pintado com tintas caricaturais, infantilizadas, encontra na boneca Gabby Gabby (Christina Hendricks) um desenvolvimento enriquecido por tons de cinza.
Um lindo epílogo para uma das mais ternas histórias do cinema de animação. A Pixar, capitaneada por John Lasseter, conseguiu operar mais um pequeno milagre.
Cotação:
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