Críticas

Crítica de “A Árvore dos Frutos Selvagens”, de Nuri Bilge Ceylan

A Árvore dos Frutos Selvagens (Ahlat Agaci – 2018)

Sinan (Murat Cemcir) é apaixonado por literatura e sempre quis ser um escritor. Voltando à aldeia onde nasceu, ele se dedica de corpo e alma para conseguir o dinheiro que precisa para ser publicado, mas as dívidas de seu pai o alcançam.

Eu gosto bastante de “Koza”, o curta de estreia do diretor turco Nuri Bilge Ceylan, e o seu primeiro longa, “A Pequena Cidade”, mas ele ultimamente tem espalhado pouca manteiga em pedaços grandes de pão. É inegável que as três horas de duração são um tremendo exagero, além de ser mercadologicamente um tiro no pé, já que reza apenas para o nicho de convertidos, acostumados ao seu estilo.

A parcela da crítica esnobe e insegura terá material generoso para textos longos e profundamente chatos, com uso frequente de hipérboles, em suma, praticando o exercício de enxergar formas nas nuvens, utilizando o cinema como muleta intelectual. Os elogios são no piloto automático, já que avaliar negativamente qualquer “filme de arte” é uma atitude tida pela patota como sintoma de irrelevância profissional. O crítico lúcido que valoriza o preço alto do ingresso leva em consideração a eficiência do todo, não apenas a beleza das intenções.

Infelizmente, a experiência real para o público pagante que pacientemente terá que lidar com cenas estendidas até o limite do suportável, muitos diálogos enfadonhos e um fiapo de enredo, dificilmente trará qualquer satisfação emocional ou racional, o roteiro de “A Árvore dos Frutos Selvagens” é pretensioso como seu título e umbilical, Ceylan praticamente implora para que o espectador não se envolva com aquilo que vê na tela. Não há paixão em seu olhar como cineasta, a linguagem que adota parece servir apenas como desculpa elegante, um meio necessário para obter os aplausos de seus semelhantes.

Ambicioso, ele tenta discutir diversos temas, como religião, o papel da mulher na sociedade e a percepção da finitude, mas falha miseravelmente em desenvolver qualquer um deles, abusando da redundância, ganhando pontos apenas pela fotografia sempre deslumbrante de Gökhan Tiryaki, fazendo uso inteligente dos planos abertos.

O excelente desfecho, surpreendente em vários sentidos, reforça a minha impressão de que o turco tem ótimas ideias, pérolas que renderiam bonitos curtas ou médias, só não conseguiu ainda entender que “menos é sempre mais”.

Cotação:

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

Recent Posts

ÓTIMOS filmes que ACABAM de entrar na NETFLIX

Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…

5 horas ago

ÓTIMOS filmes que ACABAM de entrar na AMAZON PRIME

Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…

5 horas ago

Crítica de “Gladiador 2”, de Ridley Scott

Gladiador 2 (Gladiator 2 - 2024) Lúcio (Paul Mescal) deve entrar no Coliseu após os…

1 semana ago

PÉROLAS que ACABAM de entrar na NETFLIX

Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…

1 semana ago

PÉROLAS que ACABAM de entrar na AMAZON PRIME

Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…

1 semana ago

Dica do DTC – “Agnaldo, Perigo à Vista”, com AGNALDO RAYOL

No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não…

2 semanas ago