Críticas

“Beleza Oculta”, de David Frankel, no HBO MAX

Beleza Oculta (Collateral Beauty – 2016)

Após uma tragédia pessoal, Howard (Will Smith) entra em depressão e passa a escrever cartas para a Finitude, o Tempo e o Amor – algo que preocupa seus amigos. O que parece impossível se torna realidade quando essas três partes do universo decidem responder. Finitude (Helen Mirren), Tempo (Jacob Latimore) e Amor (Keira Knightley) vão tentar ensinar o valor da vida para o protagonista.

O texto contém spoilers, recomendo que seja lido após a sessão.

O filme foi apedrejado pelos meus colegas críticos em sua estreia, muitos argumentavam que não batia com as expectativas levantadas pelo trailer (o equívoco usual de criticar o que gostariam de ter visto), outros simplesmente não analisavam dentro da proposta de fábula natalina, utilizando pontos que jogariam no lixo então clássicos amados como “A Felicidade Não se Compra”, “Natal em Julho”, “Milagre na Rua 34”, “A Loja da Esquina” e boa parte da literatura de O. Henry.

O conceito de beleza colateral (significado profundo que se perde na péssima adaptação do título) é o leitmotiv da trama, o arco-íris após a mais terrível tempestade, o fruto impossível de ser cogitado, na pior das situações, que foge de todas as suas ambições pessoais ou profissionais, a simples ideia de se satisfazer com aquilo que “é”, viver plenamente a dor, a tristeza, enxergando a beleza dos pequenos detalhes.

Tememos a finitude, corremos contra o tempo e desejamos ser amados, um ciclo de angústia sem fim, uma maratona excruciante que nos anestesia, nas palavras de John Lennon, “vida é o que acontece enquanto estamos ocupados bolando outros planos”, só que o efeito é duradouro, conduz à apatia, depressão, falta de sentido, exatamente porque o indivíduo se perde nos ritos sociais, e, na maioria das vezes, deixa para fazer o que realmente deseja só no crepúsculo da experiência.

O roteiro de Allan Loeb encontra nas mãos seguras do diretor David Frankel, a dose certa de sensibilidade. A trama é, como toda fábula, pensada para não ser absorvida pelo viés da verossimilitude, a mensagem é mais importante que a execução, logo, muitos espectadores casuais podem ficar confusos, por exemplo, com a forma como é trabalhada a influência do trio de abstrações.

Um pouco de atenção é o bastante para entender que não são pessoas reais, o elemento cênico da teatralidade já deixa claro que eles são o “Anjo Clarence” desta história. O Tempo (Latimore) se aproxima de Claire (Kate Winslet), workaholic que sofre por pensar não ter mais tempo para ter filhos. A Amor (Knightley) se aproxima de Whit (Edward Norton), que pensa ter perdido o amor de sua filha após um traumático processo de separação conjugal. A Finitude (Mirren) se aproxima de Simon (Michael Peña), que sofre em segredo com uma doença.

Este é um dos raros casos em que a pouca duração é um problema, mais 20 minutos de desenvolvimento potencializariam o impacto emocional do desfecho, mas, fora isto, aplaudo de pé o resultado.

Cotação:

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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