Hebe – A Estrela do Brasil (2019)
São Paulo, anos 80. O Brasil vive uma de suas piores crises e Hebe (Andréa Beltrão) aparece na tela exuberante: é a imagem perfeita do poder e do sucesso. Ao completar 40 anos de profissão, perto de chegar aos 60 anos de vida, está madura e já não aceita ser apenas um produto que vende bem na tela da TV. Mais do que isso, já não suporta ser uma mulher submissa ao marido, ao salário, ao governo e aos costumes vigentes.
A roteirista Carolina Kotscho provou com “2 Filhos de Francisco” que entende a importância de conquistar o público pelo coração, abrindo mão da verossimilitude em prol de momentos que pedem carinhosamente por revisão. É a sua mão que guia os méritos de “Hebe – A Estrela do Brasil”, já que a direção de Maurício Farias é, essencialmente, televisiva (leia-se televisão brasileira), confortável, sem pegada, garantindo um produto fácil de ser destrinchado em episódios e exibido com enxertos de todo tipo, algo que está programado para acontecer. O cinema por aqui infelizmente ainda é tratado como subproduto.
Andréa Beltrão faz o impossível, injetando em sua atuação tons de cinza que dão sabor especial à caricatura extremamente reverente em cena. Ela, atriz inteligente e experiente, que merecia ser mais utilizada na tela grande, consegue fugir da óbvia imitação, impondo naturalidade mesmo quando o restante do elenco e o próprio diretor estão afinados no diapasão melodramático mais brega, como, por exemplo, quando a câmera cria um suspense antes de mostrar a representação de alguma personalidade famosa, recurso que denota insegurança, corroborada pela opção duvidosa de se esgueirar nos ambientes (novamente, linguagem televisiva), ao invés de manter o plano aberto e valorizar cenicamente a entrega dos personagens.
O recorte temporal limitado abraçado reforça a imagem de Hebe como transgressora, corajosa durante o período da censura, defensora das minorias, em suma, livre pensadora. O fato de colorir os coadjuvantes, especialmente os antagonistas, com a tinta forte da unidimensionalidade, prejudica a obra enquanto esforço intelectual, mas favorece a mitificação da protagonista.
A montagem jamais cansa o público, bom ritmo, uma experiência que cumpre com aquilo que se propõe, você sai da sessão com um sorriso no rosto, entendendo um pouco sobre os bastidores espinhosos da indústria televisiva e admirando ainda mais a homenageada.
Da recente safra de cinebiografias brasileiras, esta é a melhor, a mais cativante.
Cotação:
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