Seinfeld (1989-1998)
A série sobre o nada, que também conta com os erros de gravação mais engraçados, fica melhor a cada revisão. Após duas temporadas regulares, ela engata uma quinta marcha e não deixa você sequer respirar. Não é uma sitcom pensada para satisfazer todo mundo, as cenas não imploram por gargalhadas minuto a minuto, não é “Friends”, os criadores Larry David e Jerry Seinfeld trabalharam um conceito ousado que verdadeiramente revolucionou o humor televisivo, quebrando tabus com protagonistas que remavam contra a maré moralista de projetos similares.
Se você mostrar os episódios “The Chinese Restaurant” (segunda temporada), “The Parking Garage” (terceira temporada), “The Soup Nazi” (sétima temporada) e “The Merv Griffin Show” (nona temporada) para algum desavisado e esta pessoa não virar fã da série, abra o olho, pode ser um androide. Há uma patrulha estúpida, rasa e politiqueira hoje que busca manchar a reputação de sucessos do passado, questão de tempo para que direcionem suas metralhadoras politicamente corretas em “Seinfeld”, mas estão fadados à lata de lixo da História, enquanto que os esforços das equipes artísticas seguirão impactando as novas gerações.
Eu tive contato com a série já nos seus anos finais, exibida no Canal Sony, que utilizava nos intervalos comerciais a vinheta da cena da secretária eletrônica de George (Jason Alexander), brincando com “Believe it or not”, a música-tema de “Super-Herói Americano”. O estilo de humor desprendido, altamente viciante e encantadoramente identificável (apesar de ninguém confessar este aspecto), trazia para os brasileiros uma realidade que somente seria explorada muitos anos depois, o comediante de stand-up, com aquela abertura mostrando trechos de apresentações de Jerry no palco. O segredo da eficiência absurda dos roteiros é a química entre ele, a ex-namorada Elaine (Julia Louis-Dreyfus), o amigo de infância George e seu vizinho Kramer (Michael Richards).
Os executivos da NBC procuraram Jerry, um comediante que batalhava nas noites, como tantos outros, com algumas aparições em talk shows, acreditando que a sua mente jovem e criativamente efervescente poderia conceber alguma ideia financeiramente viável e mercadologicamente atraente. Ele buscou a ajuda do colega Larry David, que imediatamente enxergou uma oportunidade de ouro para “meter o pé na porta” da indústria com algo novo, quase adolescente em sua adorável irresponsabilidade. O presidente da emissora ficou um pouco receoso, mas apostou no talento dos dois, entrando então para a história da televisão norte-americana.
O conceito original de Larry defendia espirituosamente que a série não teria abraços ou aprendizados, logo, a amizade forjada episódio a episódio sustentava-se na resiliência dos personagens diante das situações mais patéticas e absurdas. Eles não se adaptam, não amadurecem, eles apenas reagem aos impulsos mais banais. Não se respeitaria a narrativa tradicional televisiva, não haveria preocupação em desenvolver arcos ou entregar qualquer réstia de sentimentalismo, resultando em algo estilizado e, no entanto, profundamente humano, exatamente porque o estranhamento inicial do espectador não diferia da reação dos próprios observados.
“Você não odeia aquele ‘continua no próximo episódio’ na TV? Se eu quiser uma história longa e entediante, sem qualquer sentido, eu já tenho a minha vida.”
A genialidade consistia em “Seinfeld” não buscar aceitação, optando por despir-se da intelectualização, desconstruindo o formato da sitcom ao mesmo tempo em que debochava de suas limitações, reinventando a roda com o frescor do experimentalismo indie.
Cotação:
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