Stephen King faz parte da minha vida como leitor desde muito novo, lembro que o primeiro que li dele foi “A Hora do Vampiro” (edição comprada em banca de jornal), por volta dos dez anos, seguido de “O Cemitério”, já gostava do filme, depois li “Carrie” (uma edição da editora Abril, série “Grandes Sucessos”, uma capa sensacional), ganhei “A Maldição do Cigano” (edição “Mestres do Horror e da Fantasia”, a capa me aterrorizava, o desfecho, rara qualidade em seus livros, surpreende positivamente) dos queridos tios Ana e Juarez em meu aniversário, foi no período em que tive contato também com alguns dos medalhões do autor, como “O Iluminado” e “Zona Morta” (capa dura lançada pelo Círculo do Livro), alguns anos depois acompanhei o lançamento em capítulos (livros de bolso) de “O Corredor da Morte”, e, já na época de faculdade, conheci a pérola “Jogo Perigoso”, o excelente “A Dança da Morte” e terminei “A Coisa”. De lá para cá, fui preenchendo as lacunas no vasto catálogo do autor. A experiência de ler seu trabalho é diferente de tudo, você realmente se sente parte daquele universo, tamanha é a riqueza de detalhes com que ele emoldura suas páginas, a capacidade de síntese é algo que ele realmente despreza.
Para preparar esta lista, como sempre faço, revi os títulos e fiz breves observações durante as sessões, a memória afetiva é um terreno incerto, o tempo foi generoso com alguns, cruel com outros, talvez você se surpreenda com a posição de obras usualmente paparicadas, mas não sou afeito à abraçar o senso comum, levo em consideração apenas os meus próprios critérios. Espero que seja útil para os já iniciados e, principalmente, para aqueles que (invejo-os) serão apresentados ao mundo de King.
20 – A Maldição (Thinner – 1996)
Billy Halleck é um advogado influente que leva uma vida perfeita – com exceção da dificuldade em emagrecer. Um dia, ele atropela e mata uma cigana e, sendo absolvido do crime por suas ligações profissionais, é amaldiçoado pelo pai da vítima a emagrecer cada vez mais até morrer.
O ótimo desfecho garantiu a sua entrada na lista, mas é um filme problemático, tremendo potencial desperdiçado.
19 – Christine, O Carro Assassino (Christine – 1983)
Ela não é um automóvel comum: Christine é um Plymouth Fury 1957 vermelho que, desde sua fabricação em Detroit, já estava fazendo vítimas. Em 1978, a carcaça do carro é adquirida pelo nerd Arnie Cunningham, que, entre obcecado e apaixonado, dedica-se febrilmente à sua restauração. E Christine retribui o carinho do novo proprietário matando aqueles que lhe fazem mal.
O conceito é bobo, o tempo não foi generoso com a estrutura narrativa, o que torna ainda mais incrível o que o diretor John Carpenter conseguiu fazer com o material.
18 – A Criatura do Cemitério (Graveyard Shift – 1990)
Fábrica têxtil de uma pequena cidade americana, abandonada há anos, é reaberta. Mas os trabalhadores contratados para limpá-la começam a ser mortos e mutilados por ratos que infestam o local. Um dos funcionários investiga os misteriosos assassinatos e descobre que uma maléfica entidade habita os subterrâneos da fábrica.
Pouco lembrado, ganha pontos pela atmosfera que consegue criar com baixíssimo orçamento.
17 – Olhos de Gato (Cat’s Eye – 1985)
Três apavorantes histórias do mestre do terror Stephen King, interligadas por um misterioso gato. Um jogador de tênis é forçado a participar de um jogo mortal, porque tinha um caso com a mulher de um terrível mafioso. Um homem descobre que parar de fumar vai ser um pesadelo maior do que temia. E uma menina é aterrorizada por um pequeno monstro.
Antologia de qualidade irregular, mas fascinante, especialmente o conto final, protagonizado pela pequena e adorável Drew Barrymore.
16 – Os Vampiros de Salem (Salem’s Lot – 1979)
A história se passa na cidade de Jerusalém’s Lot, na Nova Inglaterra. Após a chegada de dois forasteiros – o escritor Ben Mears e o senhor Barlow – fatos inexplicáveis passam a perturbar a rotina da cidade. Ben, e seus novos partidários, entre eles o garoto Mark Petrie e o Padre Callahan, devem então agir para salvar a cidade de garras vampirescas.
O diretor Tobe Hooper, de “O Massacre da Serra-Elétrica”, aproveita a maior duração desta minissérie e toma o tempo para focar no desenvolvimento dos personagens. Há uma crescente sensação de insegurança, o mal sempre à espreita.
15 – Cemitério Maldito (Pet Sematary – 1989)
Recentemente os Creeds se mudaram para uma nova casa nos arredores de Chicago. A casa é perfeita, exceto por duas coisas: os reboques, que vivem fazendo barulho na estrada, e o misterioso cemitério no bosque atrás da casa. Os vizinhos dos Creeds estão relutantes em falar sobre o cemitério e eles tem um bom motivo para tal comportamento. Gradativamente o casal toma conhecimento da verdade e ficam chocados ao saberem do perigo que seus filhos correm. Quando o gato da família morre atropelado, eles o enterram em um cemitério índio que tem o poder de ressuscitar o que for deixado naquele terreno, mas as conseqüências são inimagináveis.
O livro original é simplesmente um dos três melhores do autor, a adaptação lançada em 1989, dirigida pela Mary Lambert e com roteiro do próprio autor, marcante para todos que cresceram naquela década, apesar de seus problemas, estabelece com muita competência o clima desolador, desesperançado, segue eficiente em revisão.
14 – Lembranças de Um Verão (Hearts in Atlantis – 2001)
Robert Garfield (David Morse) é um fotógrafo de meia idade que após a morte de um amigo passa a relembrar seu passado, mais especificamente o verão que passou quando tinha apenas 11 anos. Foi uma época marcada pela amizade com Carol (Mika Boorem) e Sully (Will Rothhaar) e também pela chegada de um novo vizinho, Ted Brautigan (Anthony Hopkins). Robert já era órfão de pai naquela época e vivia com sua mãe (Hope Davis), sendo que a memória de seu pai se apagava cada vez mais graças à amargura de sua mãe. Entretanto, é com a amizade e atenção de Ted que Robert passa a ter uma outra visão de seu falecido pai bem como as possibilidades que a vida lhe oferecia na época.
Bonita trama que, por motivos que não consigo compreender, jamais teve destaque, muitos sequer lembram do filme. E, entre aqueles que lembram, poucos identificam como sendo baseado em obra de Stephen King.
13 – Na Hora da Zona Morta (The Dead Zone – 1983)
Johnny Smith (Christopher Walken) é um professor de literatura que estava prestes a se casar quando sofre um acidente de carro e fica cinco anos em coma. Ao recobrar a consciência, descobre que perdeu sua carreira e Sarah Bracknell (Brooke Adams), sua noiva, mas em compensação ganhou poderes paranormais que o permitem prever o futuro. Assim, ele tem o poder de alterar o curso dos acontecimentos e este é o seu dilema: interferir ou sofrer sozinho, sabendo das tragédias que estão por acontecer.
A parceria entre o diretor David Cronenberg e Christopher Walken, não preciso dizer mais nada.
12 – À Espera de Um Milagre (The Green Mile – 1999)
Paul (Tom Hanks) é chefe de guarda de um corredor da morte durante o ano de 1935. Certo dia, chega em suas celas um prisioneiro imenso chamado John Coffey (Michael Clarke Duncan), acusado de estuprar e matar duas jovens meninas. Um relacionamento entre os dois surge durante o conviver, revelando que Coffey parece ser muito mais do que as impressões sugerem.
Este é um filme que, em revisão, caiu um pouco, algumas “barrigas” no roteiro, mas nada que prejudique demais o resultado, ainda profundamente emocionante.
11 – Jogo Perigoso (Gerald’s Game – 2017)
Um casal viaja pra uma casa de campo para aproveitar um momento romântico que envolve jogos adultos. Depois de ser algemada na cama, Jessie (Carla Gugino) participa dos jogos do marido Gerald (Bruce Greenwood), até que a situação tem uma mudança trágica e de repente tudo se transforma numa luta angustiante pela sobrevivência.
Uma das melhores surpresas no gênero dos últimos anos, suspense psicológico de alto nível, grande momento do diretor Mike Flanagan.
10 – Carrie, A Estranha (Carrie – 1976)
A quieta e sensível adolescente Carrie White (Sissy Spacek) enfrenta insultos dos colegas na escola e abuso em casa de sua mãe (Piper Laurie), uma fanática religiosa. Quando estranhos acontecimentos começam a acontecer em torno de Carrie, ela começa a suspeitar que tem poderes sobrenaturais. Convidada para o baile da escola pelo autoritário Tommy Ross (William Katt), Carrie tenta relaxar, mas as coisas tomam um rumo sombrio e violento.
O livro, estreia do autor, não é nada especial, mas o diretor Brian De Palma abraça carinhosamente o conceito, abusando de seu estilo visual na memorável sequência da vingança no baile. E, claro, aquela cena final, pioneiro jump scare, eleva ainda mais a qualidade da obra.
9 – Cujo (1983)
O cachorro é o animal de estimação de um garoto chamado Brett Camber, que vive em um sítio nas proximidades de uma pequena cidade do interior no norte dos Estados Unidos, em Castle Rock, no Estado do Maine. O garoto mora com sua mãe, Charity, uma mulher infeliz no casamento com Joe, um mecânico de automóveis egoísta que só está preocupado com seus interesses pessoais, deixando a família para segundo plano. Ao perseguir um coelho pelo mato, Cujo acaba entrando em uma caverna infestada de morcegos doentes, onde um deles morde seu focinho e lhe transmite a terrível raiva. Aos poucos, o dócil cachorro vai se transformando em um monstro assassino, com aspecto extremamente ameaçador.
Este é um que foi favorecido no teste do tempo, impecável construção de clima, com um desfecho MUITO superior ao do livro.
8 – Conta Comigo (Stand By Me – 1986)
Em uma pequena cidade do Oregon, quatro amigos – o sensível Gordie, o durão Chris, o destemido Teddy e o acovardado Vern – resolvem sair à procura do cadáver de um adolescente desaparecido, que foi atropelado por um trem. O objetivo dos garotos é o de ser vistos como heróis diante dos amigos e dos moradores da cidade. Assim, eles partem numa inesquecível viagem de dois dias que se transforma em uma odisseia de autodescoberta.
Clássico da “Sessão da Tarde”, um filme que ajudou a formar o caráter de toda uma geração. Talvez somente John Hughes, em “Clube dos Cinco”, conseguiu tratar do tema da amizade adolescente com tanta sensibilidade.
7 – O Nevoeiro (The Mist – 2007)
Depois que uma violenta tempestade devasta a cidade de Maine, David Drayton – um artista local – e seu filho de 8 anos correm para o mercado, antes que os suprimentos se esgotem. Porém, um estranho nevoeiro toma conta da cidade, deixando David e um grupo de pessoas presas no mercado – entre elas um cético forasteiro e uma fanática religiosa. David logo descobre que o nevoeiro esconde algo sobrenatural e que sair do mercado pode ser fatal. Mas conforme o grupo tenta desvendar o mistério, o caos se instala e fica evidente que as pessoas dentro do mercado podem tornar-se tão ameaçadoras quanto as criaturas do lado de fora.
Só pela crítica realizada ao fundamentalismo religioso, já mereceria destaque dentre tantas produções medrosas que são despejadas nas salas mensalmente. O terror nasce da expectativa, daquilo que não é visto, opção brilhante.
6 – It: A Coisa (It – 2017)
Um grupo de crianças enfrentam seus maiores medos quando tentam descobrir a causa do desaparecimento de várias crianças em sua cidade natal, Derry. Eles acabam se deparando com uma força maligna em forma de palhaço, chamado de Pennywise, cujo histórico de mortes e violência se repetem há séculos.
O monstro se alimenta da insegurança, o seu objetivo é fazer nascer no espírito puro o medo, ele se mostra presente nos momentos em que o indivíduo se mostra existencialmente fragilizado diante do desconhecido, logo, ao encontrar crianças marcadas a ferro e fogo pela exposição diária à estupidez de seres sem empatia, psicopatas em estado embrionário, o agente do mal encara pela primeira vez a resistência. A forma como o roteiro trabalha as sequências de horror não é altamente original, nem precisaria ser, exatamente por tratar do medo como instinto primitivo, ele se apoia em convenções como jump scares e efeitos sonoros alarmantes, com instigante utilização das sombras, mérito da fotografia de Chung Chung-hoon, a execução é impecável.
5 – Eclipse Total (Dolores Claiborne – 1995)
Dolores Claiborne mora numa cidade do interior, onde trabalha como empregada de uma mulher muito rica. Esta um dia aparece morta, e Dolores é tida como principal suspeita. A filha, influente jornalista em Nova York, reencontra a mãe após vários anos na tentativa de ajudá-la, mas antes terá que superar os traumas de infância. Assustadoras descobertas virão à tona.
Sucesso na época das locadoras de vídeo, infelizmente caiu no esquecimento, mas segue eficiente, o diretor Taylor Hackford preparou uma aula de suspense que deixaria Hitchcock orgulhoso.
4 – Bala de Prata (Silver Bullet – 1985)
O filme aborda a drástica alteração no cotidiano da outrora pacata cidadezinha de Tarker’s Mill, no interior dos EUA, quando na primavera de 1976, uma série de violentos assassinatos passam a se suceder, cada vez que a lua cheia surge no céu. Um garoto paralítico chamado Marty Coslaw, começa a desconfiar que o responsável pelos crimes seja um lobisomem, o que acaba se confirmando. Mais tarde, quando Marty, descobre a identidade do monstro, passa a ser perseguido pelo mesmo, e precisará encontrar uma forma de destruí-lo para salvar a própria vida.
Corey Haim vive uma criança paralítica, que é perseguida por descobrir o terrível segredo de sua cidadezinha de interior: um padre querido por todos, mas que, na realidade, é um lobisomem. O conceito em si já é ousado e sombrio. Claro que ninguém acredita no menino, que acaba recebendo inicialmente o apoio da única pessoa que não tem crédito algum, sequer entre seus familiares, o tio bêbado vivido por Gary Busey. Vários elementos são fascinantes, como a cadeira de rodas motorizada, que rende ao filme uma de suas melhores cenas, a da perseguição noturna pela floresta. Munido apenas de poucos morteiros, com um transporte frágil que pode desligar a qualquer momento, o garoto terá que enfrentar o temido lobisomem.
3 – Um Sonho de Liberdade (The Shawshank Redemption – 1994)
Em 1946, Andy Dufresne (Tim Robbins), um jovem e bem sucedido banqueiro, tem a sua vida radicalmente modificada quando mandado para uma penitenciária para cumprir prisão perpétua por ter assassinado sua mulher e o amante dela. No presídio, faz amizade com Ellis Boyd Redding (Morgan Freeman), um prisioneiro que cumpre pena há 20 anos e controla o mercado negro do presídio.
O título mais popular na lista, peca por pesar a mão no melodrama em alguns momentos, mas a trama prende a atenção e eleva o espírito do espectador com sua poderosa mensagem de esperança. Mais que um filme, uma experiência emocional intensa.
2 – Louca Obsessão (Misery – 1990)
Paul Sheldon (James Caan) é um escritor famoso que sofre um acidente de carro, sendo socorrido por uma enfermeira (Kathy Bates) que se autodenomina sua fã número um. Ela o leva para sua casa e passa a cuidá-lo. Mas, ao ler os originais do novo livro do escritor, descobre que sua personagem predileta será morta, fazendo com que sua personalidade doentia se revele. Sem poder se locomover, Sheldon se vê à mercê das loucuras da “fã”.
O diretor Rob Reiner entregou um filme “redondo”, sem arestas, extremamente competente ao que se propõe, com pelo menos uma sequência, famosíssima, que é verdadeiramente inesquecível.
1 – O Iluminado (The Shining – 1980)
Durante o inverno, um homem é contratado para ficar como vigia em um hotel no Colorado, e vai para lá com a mulher e seu filho. Porém, o contínuo isolamento começa a lhe causar problemas mentais sérios e ele vai se tornando cada vez mais agressivo e perigoso, ao mesmo tempo que seu filho passa a ter visões de acontecimentos ocorridos no passado, que também foram causados pelo isolamento excessivo.
Stanley Kubrick criou uma pérola que cresce e ganha novos significados a cada revisão, mérito raro, contando com a atuação brilhante de Jack Nicholson e uma das cenas mais impactantes da história do cinema de horror. Tomando muitas liberdades com o material original, ele presenteou os fãs com uma obra complementar, ouso afirmar, muito superior ao livro.
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Octavio, levo no meu coração "Conta Comigo". Sua observação sobre o filme me emocionou. Um sonho de liberdade, À Espera de um milagre e O Iluminado figuram na minha lista de favoritos.