Críticas

“Minha Mãe é Uma Sereia”, de Richard Benjamin

Minha Mãe é Uma Sereia (Mermaids – 1990)

Charlotte Flax (Winona Ryder), de 15 anos de idade, está cansada de Rachel (Cher), sua mãe maluca, mudar sua família para uma cidade diferente, todas as vezes que acha que é necessário. Quando elas se mudam para uma pequena cidade de Massachusetts e a Sra. Flax começa a namorar um lojista, Lou (Bob Hoskins), Charlotte e sua irmã de 9 anos de idade, Kate (Christina Ricci), esperam que elas possam finalmente sossegar.

No meu período pré-adolescente de garimpo nas locadoras de vídeo, Cher era sinônimo de filme bom, “Marcas do Destino” e “As Bruxas de Eastwick” simplesmente não paravam na prateleira da RG Vídeo de Vila Isabel, do amigo Ricardo.

Na mesma época do deliciosamente subversivo “Minha Mãe é Uma Sereia”, que anos depois foi exibido com frequência na “Sessão da Tarde”, foi lançado o popular “Feitiço da Lua”, não curti tanto, nunca me cativou, mas o primeiro só melhora a cada revisão.

A mãe e suas duas meninas não conseguem se adequar aos papeis que a sociedade exige, daí nasce a simbologia da sereia. Rachel é uma mulher linda e gosta de utilizar isto ao seu favor, algo que, no início da década de 60, antes dos hippies, garantia um fardo complicado para suas filhas.

Charlotte agrega à insegurança natural de toda adolescente a culpa católica, já que ela utiliza a muleta religiosa como substituta da ausente figura paterna. A pequena Kate, diferente de todas as suas coleguinhas na escola, treina incessantemente na banheira prendendo a respiração debaixo d’água, sonhando em cruzar a nado o Canal da Mancha.

O adorável Lou, longe de ser o padrão de beleza (reforçando o leitmotiv da trama), fica encantando com a vivacidade de Rachel, mas logo descobre que, por trás daquela fachada protetora, há uma leoa ferida, acuada, que se defende agredindo.

Ele tenta apresentar às filhas dela o conceito de família, carinhoso, o homem se apega rapidamente, prepara um jantar tradicional, faz questão de agradar a pequena, transformando o quarto dela, inserindo no ambiente elementos marítimos. A reação indelicada da mãe ao ser surpreendida com esta gentileza magoa Lou, ela, sendo profundamente egoísta, enxergava as meninas como restolhos de vivências passadas doloridas.

“Se você quer ser feliz pelo resto da sua vida, nunca se case com uma mulher bonita.”

A cena final, ao som da contagiante “If You Wanna Be Happy”, de Jimmy Soul, talvez tenha sido a responsável por mais vezes em que apertei o Rew no aparelho numa mesma sessão.

Tudo nela funciona, Cher, Winona e a pequena Ricci, pela primeira vez mostradas em total harmonia, abraçando suas limitações com um sorriso no rosto, dançando e cantando enquanto preparam a mesa do exótico café da manhã, uma tradição que será mantida como resistência saudável à padronização vazia de uma sociedade que se apoia em aparências frágeis.

Cotação:

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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