Mulheres no Front (Le Soldatesse – 1965)
Um grupo de mulheres “convocadas” para entreter os soldados italianos na Segunda Guerra. Zurlini mostra este episódio a partir do relacionamento dessas mulheres com três militares que as conduzem numa longa viagem a uma base numa região montanhosa da Grécia ocupada.
Dentre os grandes nomes da era de ouro do cinema italiano, Valerio Zurlini talvez seja o menos lembrado, injustiça que pretendo desfazer abordando alguns de seus melhores filmes.
A sua carreira foi curta, apenas oito longas como diretor, mas TODOS com qualidade acima da média, exalando sensibilidade e coragem. Você pode perceber similaridade afetiva com Antonioni ou De Sica, mas a sua assinatura visual é autoral, trabalhando sempre a transitoriedade das emoções. A abordagem dramática intimista, com ênfase em silêncio e objetividade neorrealista no discurso, cativa o espectador desde os primeiros minutos.
Eu conheci sua obra exatamente com “Mulheres no Front”, no período de garimpo na internet, época difícil em que ela ainda era discada, passávamos duas, até três, madrugadas inteiras baixando um único filme, mas a satisfação de entrar em contato com as filmografias completas dos cineastas, raridades impossíveis de encontrar em VHS, fazia valer cada segundo da espera. Hoje, você pode ver o filme com ótima qualidade de imagem, em questão de segundos, na Amazon Prime.
Há um diálogo que ocorre quase no final, que sintetiza perfeitamente a mensagem da obra, talvez seja a cena mais emocionalmente impactante, apesar de se tratar apenas da conversa de um casal desesperançado na cama, mais pungente do que as cenas que mostram a consequência do conflito. “Eu não perdoo quem nos fez tanto mal, o pior não foi a destruição, porque homens perecem, mas também nascem, as cidades podem ser reconstruídas e a vida não acaba pela violência, mas nós dois não temos coragem de nos olharmos nos olhos, fomos humilhados.”
O orgulho natural, aquilo que erige em nós os alicerces do amor próprio, sempre é a primeira vítima na batalha. Ao colocar os personagens, oprimidos e opressores, praticamente na mesma posição, já que até mesmo os soldados cumprem ordens e, muitas das vezes, com medo e a convicção de que estão errados, o roteiro mostra como a convivência forçada humaniza e desfaz a visão maniqueísta, fundamental peça na engrenagem de qualquer conflito.
Não há glória ao final, não há vitória, apenas indivíduos exauridos física e psicologicamente dos dois lados.
Cotação:
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