“Louco por Garotas”, produção de Joe Pasternak, com o refinamento da MGM, é perfeito para mostrar à qualquer pessoa não-iniciada que queira entender o fenômeno “Elvis” no cinema.
Ele estava fisicamente bem, esbanjando ótimo humor (transparece na leveza com que atua, similar ao temperamento mostrado em seus primeiros projetos), provavelmente reflexo da parceria agradável com a bela Shelley Fabares, que viria a ser seu interesse romântico em três filmes, as manchetes na época afirmavam: a favorita do rei. O carinho entre os dois foi imediato, como a própria afirma em várias entrevistas. Ela, recém-casada, ele, começando a pensar na possibilidade de casar com Priscilla, acabaram flertando bastante nos bastidores, a cumplicidade é perceptível nas cenas.
O senso de diversão, a fotografia intensamente colorida de Philip Lathrop, o cenário e o enredo bebem da fonte dos filmes de praia, que faziam sucesso entre os adolescentes, protagonizados por Annette Funicello e Frankie Avalon. O clima é muito diferente dos projetos anteriores, considero um dos melhores da safra despretensiosa de sua carreira cinematográfica.
Louco por Garotas (Girl Happy – 1965)
Rusty Wells (Elvis), o líder de um grupo musical, tem a missão de vigiar a filha (Shelley Fabares) do dono (Harold Stone) de uma boate em Chicago, para mantê-la fora de confusão durante as férias em Fort Lauderdale.
Influenciado pela invasão britânica na música pop, o roteiro injeta relevância cômica no trio que acompanha Rusty no palco, a banda carismática é formada por Gary Crosby (filho de Bing Crosby), Joby Baker e Jimmy Hawkins, que viveu o filho de James Stewart no clássico “A Felicidade Não se Compra”. O entrosamento do quarteto merece ser destacado, uma química que os produtores tentaram emplacar nas obras posteriores, sem sucesso.
Um detalhe curioso e ignorado pelos seus detratores, Elvis, cinéfilo apaixonado, ajudou a resgatar para a tela grande (e uma nova geração) Jackie Coogan, o pequeno companheiro de Chaplin na maravilhosa obra-prima da era silenciosa, “O Garoto”, que se dedicava à participações em seriados, no papel de um sargento bonachão, durante uma hilária sequência que envolve o cantor precisando se vestir de mulher para fugir da prisão, elemento inspirado em “Quanto Mais Quente Melhor”.
A trilha sonora é eletrizante, simpática, mas Elvis já se mostrava bastante incomodado com a simplicidade das letras, ele chegou a abandonar o estúdio de gravação durante o milionésimo take em que simplesmente não conseguia parar de rir. Analisando em perspectiva, não é das piores, o maior problema é a opção questionável de acelerar artificialmente a voz dele, na tentativa de emular o frescor das gravações dos Beatles. “Girl Happy”, a canção-tema, segue contagiante, assim como “Do The Clam”. “Fort Lauderdale Chamber of Commerce” é muito simpática. “Puppet on a String” e “Do Not Disturb” são lindas baladas. Até mesmo o material mais fraco, como “Wolf Call”, serve bem no contexto em que é inserido.
O diretor Boris Sagal, que faria anos depois, “A Última Esperança da Terra” (com Charlton Heston) e a controversa pérola “Angela” (com Sophia Loren), respeitava Elvis como ator e demonstrou preocupação nos bastidores com o jovem astro, sugerindo até que ele tirasse algum tempo de descanso entre uma produção e outra, algo impensável para o ambicioso empresário Tom Parker. Esta relação de confiança mútua transparece na atuação de Elvis, com excelente timing cômico e visivelmente relaxado.
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