Críticas

“Retorno à Câmara 36”, de Lau Kar-leung, na NETFLIX

Retorno à Câmara 36 (Shao Lin da Peng da Shi – 1980)

Chao Jen-Cheh (Gordon Liu) é um falso monge shaolin, que engana os outros fingindo ser San Te (o invencível herói do filme original, “A Câmara 36 de Shaolin”, vivido pelo mesmo Liu). Quando seus amigos começam a ser explorados pelos novos administradores de uma fábrica de tecidos, Jen-Cheh ameaça os vilões como se fosse San Te, mas a farsa é descoberta. Humilhado, resta ao jovem ir ao Templo de Shaolin e aprender kung-fu.

Eu gosto muito das sequências de treino no filme original, “A Câmara 36 de Shaolin”, mas, como afirmei em meu texto sobre ele, considero superestimado, inferior à esta pérola que, ao invés de seguir a tendência comercial de repetir a fórmula, ousadamente subverte as expectativas, propondo uma sátira das convenções estabelecidas no anterior, com o grande Gordon Liu retornando como uma caricatura do personagem anterior, um farsante muito bem-humorado que tenta se fazer passar pelo lendário monge shaolin San Te, que defendeu outrora.

O ritmo do primeiro ato é encantador, as piadas funcionam e você realmente se importa com o que está em jogo, a proteção do grupo de trabalhadores explorados. É hilário o momento em que vemos Liu, esbanjando timing cômico, em épica encenação de suas habilidades especiais, pulando de uma árvore com o auxílio de uma corda secreta, que ele furtivamente corta assim que toca o solo.

Ao não se levar a sério, o roteiro conquista até mesmo o público que usualmente não dedicaria seu tempo em produções de artes marciais. Quando ele é obrigado a lavar sua cabeça no poço, atirando uma pesada pedra na água e analisando para qual lado deve correr, a coreografia toma generoso tempo, enfocando na tentativa e erro, evidenciando a evolução técnica do jovem, a precisão cirúrgica deste feito é como balé, e, por conseguinte, deveria ser igualmente respeitada pelos meus colegas acadêmicos da crítica. Infelizmente, o gênero ainda é visto como algo artisticamente menor. A beleza em execução e simbologia do “kung-fu de andaime” no terceiro ato, representando o inconformismo do estudante que, apesar de rejeitado pelos mestres, decide aprender pela observação, engrandece o resultado.

A imagem diz tudo, na parte inferior do templo, homens treinam mecanicamente, repetições ad nauseam de movimentos, molde fixo, enquanto isto, por sobre os muros, o invasor rebelde adapta a construção de andaimes, tarefa imposta como punição, transformando-a em veículo para um estilo único, adquirido por osmose, naturalmente fluido, imprevisível.

Cotação:

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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