A Sun (2019)
A vida de uma família é transformada depois da prisão do filho mais novo e de uma tragédia devastadora.
O roteirista/diretor taiwanês Chung Mong-hong levou o prêmio Golden Horse por seu trabalho nesta pérola que, graças à popularidade mundial da Netflix, agora terá chance de justo reconhecimento.
A longa duração e o ritmo lento, diferente do mainstream norte-americano usualmente consumido pelo público brasileiro, podem ser um obstáculo considerável, mas eu não subestimo a inteligência de quem me lê neste momento, afinal, “Devo Tudo ao Cinema” é o porto seguro de todo cinéfilo dedicado e apaixonado por esta arte.
Os primeiros dois minutos chocam pela brutalidade do que ocorre, especialmente contrastando com a sua moldura, a ternura inerente à bela trilha sonora minimalista composta por Lin Sheng-xiang, mas a intenção é exatamente fazer o espectador sentir o impacto avassalador daquele evento na vida da família Chen. Vale ressaltar que, apesar de ser uma obra densa, o clima é mantido leve graças à espertos alívios cômicos inesperados.
O pai (Chen Yi-wen), instrutor de autoescola, a mãe (excelente Samantha Shu-Chin Ko), cabeleireira, pessoas simples que sempre tentaram fugir de qualquer tipo de risco social. Os filhos, A-Hao (Greg Han Hsu), o mais velho, estudioso e introvertido, aquele que carrega o fardo de ser a esperança de um futuro respeitável, principalmente após a atitude criminosa de A-Ho (Wu Chien-ho), que sempre foi rebelde e inconsequente. Ao saber que o jovem foi detido e sentenciado, o pai friamente pede que o juiz seja correto e aplique uma sentença dura, algo que enfraquece ainda mais o psicológico abalado da esposa.
O roteiro vai lentamente adicionando camadas, novas informações que desafiam cada vez mais a nossa (público e personagens) capacidade de definir uma visão fácil e maniqueísta do material humano apresentado, com a fotografia (operada pelo próprio diretor) no segundo ato espertamente absorvendo o leitmotiv representado pelo bonito discurso do filho mais velho sobre o sol ser o que há de mais justo no mundo, praticamente utilizando sombras e luz como elemento narrativo, preenchendo lacunas mais perceptíveis em revisão, pura sensibilidade.
A poesia deste discurso fica na mente após a sessão, A-Hao, um farol de boas atitudes, um espírito solar, sofre calado por não encontrar um canto sossegado para se esconder à sombra, em suma, ele se sente pressionado a ser sempre o consolador, nunca o consolado.
“A Sun” explora lindamente temas como perdão, empatia, egoísmo e paz interior, recompensando a paciência do público com um terceiro ato poderoso, envolvente, filosoficamente profundo e emocionalmente intenso.
Cotação:
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Após essa explanação sobre o filme A Sun e o filme é tudo isso mesmo. Muito bom. Vale a pena assistir. Traz uma lição muito grande.
excelente filme. boa critica. e nos faz tambem entender um pouco a rotina familiar da familia oriental
Grata surpresa. O filme foi do choque inicial e cortes rápidos para um momento de aprofundamento e reflexão. Quantas vezes julgamos as ações alheias sem saber a fundo todas as verdades. Ninguém é uma definição estática. Estamos em constante mudança, temos um universo todo dentro de nós. Nem sempre ele consegue se refrescar nas sombras.