Parada 88 – O Limite de Alerta (1977)
Alguns anos antes de Roberto Pires lançar “Abrigo Nuclear”, o roteirista/diretor pernambucano José de Anchieta lançou este pioneiro sci-fi brasileiro, pré-cyberpunk, pré-Blade Runner, com atmosférica trilha sonora de Egberto Gismonti, fotografia soturna de Francisco Botelho, e interpretações inspiradas de Cleyde Yáconis (como a pregadora hippie) e da grande Yara Amaral.
Regina Duarte produz e também atua, vivendo a adolescente Ana, cega após a explosão de uma fábrica que contaminou a região com gás letal. O futuro da trama é dezembro de 1999, os moradores da cidade Parada 88 pagam pelo ar puro e vivem em túneis de plásticos transparentes, aquele que ousa fugir do local, acaba se tornando um ciborgue, tendo seus pulmões substituídos por aparelhos mecânicos.
O tom de crítica é evidente já na primeira cena envolvendo os funcionários do departamento de controle de gases. O líder, ao discursar sobre Parada 88, acaba se referindo à tragédia como: “a explosão, ou melhor, o acidente.” Logo mais, ele novamente aperta o dedo na ferida, citando irritado a “poluição burocrática” como sendo a explicação para a omissão do sistema no tocante às pessoas diretamente afetadas pelo evento. Vale destacar que o caso Chernobyl só ocorreria quase dez anos depois.
A sequência é altamente expositiva, a narração didaticamente explica para o espectador o atual modo de vida dos habitantes, recurso preguiçoso, mas compreensível, devido ao ineditismo de nossa indústria à época no tema.
O filme, que também conta com um criativo design de produção de Alcino Izzo Jr., venceu o prêmio de Melhor Cenografia pela Associação Paulista de Críticos de Arte, mas, por ser representante de um gênero e não induzir o público ao sono coletivo nas sessões, foi apagado das páginas da História cinematográfica brasileira pelos inseguros e mimados do Cinema Novo, absurdo que precisa ser desfeito.
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