Stan e Ollie – O Gordo e o Magro (Stan and Ollie – 2018)
A história real de uma das maiores duplas de comediantes de todos os tempos, Stan Laurel (Steve Coogan) e Oliver Hardy (John C. Reilly). Os dois embarcaram em uma longa jornada em sua turnê pela Grã-Bretanha, em 1953, buscando colocar suas carreiras novamente nos holofotes, mesmo com o mundo ainda abalado pelos efeitos da Segunda Guerra Mundial.
No desfecho da melancólica última produção da dupla, “A Ilha da Bagunça” (Utopia – 1951), Stan e Ollie são abandonados numa ilha deserta, triste metáfora que refletia a relação deles com a indústria que durante muitos anos usufruiu de seus talentos, os dois, ícones da era de ouro, atravessaram o crepúsculo de suas carreiras relegados à exóticos artigos de museu, tratados pela imprensa e por Hollywood como peças sobressalentes na máquina.
O diretor escocês Jon S. Baird, auxiliado pelo roteiro de Jeff Pope e ‘A.J.’ Marriot (autor da obra original e de vários outros escritos sobre a dupla), foca exatamente neste período mais complicado, mas evita o melodrama barato, pode-se dizer que as escolhas emotivas são até sóbrias demais, com estética e estrutura narrativa televisivas, sem ousadia, talvez o único ponto negativo relevante, nada que prejudique a experiência.
O filme vai te ganhando sem pressa, amparado pelo trabalho estupendo de caracterização de Reilly e Coogan, uma entrega visceral que torna crível o companheirismo e a confiança mútua, culminando em uma bonita carta de amor ao legado artístico da dupla, enfatizando o profundo respeito que eles nutriam por seus fãs. Algo assim ser resgatado nos dias de hoje, com tantos ídolos de barro no ramo do entretenimento que sequer respeitam suas próprias carreiras, pode, com sorte, despertar no público mais jovem o interesse por esta época mais elegante, e, quem sabe, incentivar que eles refinem seus critérios no consumo cultural.
Pode parecer um sonho, mas o cinema me fez desde pequeno acreditar que eles podem se realizar. E quando escuto a gargalhada de uma afilhada vendo em DVD as trapalhadas de O Gordo e o Magro, repetindo o ritual que eu vivi na idade dela, diante de uma televisão bem menor ligada ao aparelho VHS, sinto que o caminho para esta realidade improvável é pavimentado por adultos conscientes e minimamente interessados no autoaprimoramento intelectual constante.
“Stan e Ollie” incita reflexões importantes que vão além da apreciação fílmica, uma cinebiografia competente e que, infelizmente, pouca gente neste país sabe que existe, já que foi lançada sem pompa diretamente em plataformas digitais. A distribuidora pode ter perdido a fé, até compreendo que seria um risco mercadológico depender do interesse do público brasileiro, mas eu simplesmente me recuso a aceitar o fétido odor de lixo acumulado que entra pela janela.
Cotação:
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