A Feiticeira (Bewitched – 1964 a 1972)
Basta torcer o nariz para Samantha (Elizabeth Montgomery) usar seus poderes de bruxa. O problema é que seu marido, o publicitário James (Dick York), quer que ela seja uma esposa normal e ignore sua mágica. A vizinha fofoqueira Alice (Gladys Kravitz) está sempre pronta para desvendar o mistério, e, para complicar tudo, ainda aparece a exótica sogra Endora (Agnes Moorehead).
“A Feiticeira” e “Jeannie é Um Gênio” são as duas séries que (com sorte) todas as mães indicavam aos filhos pequenos, o sucesso da primeira é diretamente responsável pela criação da segunda.
Eu me recordo de assistir a alguns episódios na infância, creio que exibidos na Bandeirantes, mas só fui acompanhar com mais atenção na adolescência, década de 90, nos primeiros anos do fenômeno da TV a cabo no Brasil, aquela época incrível em que assistir a documentários de animais selvagens na Discovery era tido por todos como símbolo de status social superior.
A encantadora série, criada por Sol Saks, era transmitida pela Warner Channel, alguns anos depois, por volta de 1999, retornou para a TV aberta, no horário nobre da RedeTV! O fato é que, revendo para a preparação deste texto, desconheço séries cômicas do mesmo período que tenham sobrevivido tão bem ao teste do tempo.
A inspiração foi a charmosa comédia romântica “Sortilégio de Amor” (Bell, Book and Candle – 1958), em que uma apaixonada Kim Novak enfeitiça James Stewart, conceito perfeito para o formato televisivo.
O diretor/produtor William Asher, popularmente conhecido como o inventor das sitcoms, enxergou uma oportunidade para resgatar o brilho nos olhos de sua esposa, a belíssima Elizabeth Montgomery, que já andava desencantada com a indústria, cogitando a hipótese de se aposentar e cuidar da família.
Ela leu o roteiro do piloto, escrito por Saks, e não pensou duas vezes, o potencial cômico era ilimitado, como comprova o brilhante episódio “A is for Aardvark” (primeira temporada), o único dirigido pela grande Ida Lupino, em que Samantha concede seus poderes temporariamente ao marido.
Vale destacar na fórmula de sucesso por aqui a primorosa contribuição da versão brasileira, dublada no estúdio AIC, com os talentos de Nícia Soares (Samantha), Sérgio Galvão (James) e Márcia Real (Endora).
A primeira temporada é a mais eficiente, até por restringir o elemento sobrenatural, mérito do produtor Danny Arnold, colocando o casal em situações alegóricas facilmente identificáveis por famílias do mundo todo, normalmente resolvidas pela esposa sem apelar para seus poderes.
Pioneira no feminismo, muito antes da causa se tornar mercadologicamente viável. E, o mais importante, sem o mote agressivo, as histórias sempre defendiam que todos os conflitos poderiam ser sanados com respeito e gentileza.
Nos anos seguintes, o tom sofisticado foi se tornando cada vez mais kitsch, brega, perdendo o foco que verdadeiramente tornava a série um diferencial na competição pela audiência.
Na sexta temporada, Dick Sargent substituiu Dick York, que enfrentava problemas de saúde, o público não recebeu bem, a química perfeita foi dissolvida, o timing das gags era forçado, enquanto que na vida real o relacionamento entre Elizabeth e Asher já estava rumando para o divórcio, logo, o sinal vermelho do estúdio tocou impossibilitando a produção das últimas duas temporadas que estavam contratualmente no horizonte, desfecho amargo para uma produção que primava pela doçura.
Abertura com o tema composto por Howard Greenfield e Jack Keller:
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