Joias Brutas (Uncut Gems – 2019)
Howard Ratner (Adam Sandler) é vendedor de peças de valor para famosos e dono de uma loja de joias de Nova Iorque. Certa vez, ele se vê cheio de dívidas para quitar e perceber que deve achar um jeito de quitá-las. Porém, ele está em uma situação emocionalmente complicada e difícil, já que acabou de passar por um roubo que envolve pessoas de confiança.
Os roteiristas/diretores Benny Safdie e Josh Safdie, amparados pela criatividade fervilhante do estúdio A24, entregam uma obra que pode ser posicionada em destaque ao lado de pérolas como “O Jogador”, “O Jogo de Emoções”, “Desafio à Corrupção”, “A Mesa do Diabo” e “Incrível Obsessão”, que exploram em variados níveis a doentia mente caótica e autodestrutiva dos jogadores inveterados.
Adam Sandler, popularmente conhecido por comédias quase sempre abaixo da média, realiza seu melhor trabalho desde “Embriagado de Amor” (2002), surpreendendo como esteio emocional no desafio considerável de fazer com que o público siga se importando, e, mais que isto, torcendo pelo personagem, apesar de ser péssimo marido, pai, profissional e amigo, em suma, uma figura patética que se afunda cada vez mais na espiral descendente de humilhações decorrentes de suas atitudes.
A ideia de iniciar de forma atípica, mostrando o exame de colonoscopia do protagonista, logo depois de um breve prólogo que nos introduz às engrenagens literalmente sujas do negócio de vendas de joias, evidencia o leitmotiv, a noção de que o estímulo fantasioso pleno em misticismo que domina as ações impulsivas do apostador, quando analisado “abaixo da pele”, ou seja, a visceralidade obrigatória que sustenta o conceito transcendental, acaba se revelando implacavelmente frágil.
Ao segurar a rara pedra não lapidada de opala, obtida ilegalmente com mineradores da Etiópia, Howard (Sandler) enxerga um universo de possibilidades, ganancioso, ele sente a ilusão de controle, negocia com o inexistente, brinca de ser Deus, quando, na realidade, não consegue sequer ser pontual na apresentação de teatro de sua filha adolescente. É uma experiência sensorial, a edição impecável coloca o público em estado de ansiedade crescente, assim como o protagonista, desconforto consciente.
O maior mérito do filme é se manter hipnótico do início ao fim, uma assinatura autoral firme, um ritmo frenético que faz com que o espectador esqueça de respirar durante as várias sequências mais tensas.
Cotação:
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