Críticas

Crítica de “Jojo Rabbit”, de Taika Waititi

Jojo Rabbit (2019)

Jojo (Roman Griffin Davis) é um garoto alemão solitário que descobre que sua mãe (Scarlett Johansson) está escondendo Elsa (Thomasin McKenzie), uma garota judia, no sótão. Ajudado apenas por seu amigo imaginário, Hitler (Taika Waititi), Jojo deve enfrentar seu nacionalismo cego enquanto a Segunda Guerra Mundial prossegue.

O talentoso roteirista/diretor neozelandês Taika Waititi toma como inspiração o livro (fraco, vale ressaltar) de Christine Leunens, “Caging Skies”, e faz o impossível a partir do conceito mais espinhoso de todos, uma comédia brilhante, com uma carga surpreendente de emoção, defendida por um elenco impecável, que ridiculariza implacavelmente sem jamais esquecer de que toca em um tema extremamente sério, um equilíbrio tonal dificílimo. Desde Mel Brooks e seu clássico “Primavera Para Hitler”, o cinema não encontrava competidor cômico tão ácido e corajoso.

A riqueza de detalhes agrega mais valor, da frequente rima visual com o amarrar dos cadarços de sapatos (símbolo de fragilidade) às escolhas musicais, especialmente as músicas de início e fim, clássicos dos Beatles e David Bowie, cantadas pelos mesmos em alemão, totalmente sintonizadas com a essência da trama, o caos do conflito através dos olhos de uma criança cuja mente está em formação, projetando ludicamente a ausência paterna na figura do amigo imaginário mais improvável, Hitler (Waititi genialmente acerta o tom de tolice infantilizada na caracterização), que sempre aparece nos momentos em que ele se sente desafiado.

A mãe respeita o posicionamento fervoroso do filho, mas secretamente luta contra os ídolos do pequeno. É neste contexto que se insere a jovem e bela Elsa, judia, escondida no sótão da família. Ao descobrir que o monstro de chifres tão demonizado por seus instrutores no acampamento hitlerista, na realidade, transmite doçura no olhar, o menino vai gradativamente sendo atraído pelo fascínio do desconhecido. O arco narrativo de Jojo é retratado com ternura, sem desvios fáceis, o seu amadurecimento no terceiro ato é crível, feito considerável.

A beleza da obra é ensinar às crianças (e aos adultos) a importância de ser gentil, demonstrar da forma mais encantadora que a cura para o ódio é a simples humanização do outro, não há preconceito que sobreviva à convivência, parafraseando livremente o escritor Edward Bulwer-Lytton, uma boa conversa é mais poderosa que a espada.

Cotação:

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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