Críticas

“Os Últimos Durões”, com KIRK DOUGLAS e BURT LANCASTER

Os Últimos Durões (Tough Guys – 1986)

Dois criminosos lendários, Harry Doyle (Burt Lancaster) e Archie Long (Kirk Douglas), são libertados da prisão após 30 anos, mas já são idosos e precisam se adaptar à nova realidade.

A minha geração teve a sorte de crescer vendo filmes de todos os gêneros, nacionalidades e épocas nas sessões vespertinas televisivas, pérolas como “Os Últimos Durões”, de Jeff Kanew, o mesmo diretor dos divertidos “Gotcha!: Uma Arma do Barulho” e “A Vingança dos Nerds”. Uma maravilhosa celebração do politicamente incorreto, homenageando dois medalhões da era de ouro do cinema, Kirk Douglas e Burt Lancaster.

Revendo hoje, analisando o contexto cultural atual cada vez mais lastimável, aplaudo de pé o roteiro da dupla James Orr e Jim Cruickshank, de “Três Solteirões e Um Bebê” e do telefilme “A Máquina do Crescimento” (clássico do “Cinema em Casa” do SBT).

É uma comédia adorável na superfície, mas que trata de temas complexos, por exemplo, fazendo graça com o desinteresse acachapante de Archie (Douglas) em aceitar o conceito de reintegração na sociedade, confrontando os absurdos do mundo moderno.

Vários momentos reforçam este comportamento, como a hilária cena em que ele adentra um bar, com a segurança no olhar de um cowboy, apenas para descobrir atônito, minutos depois, que está sendo paquerado por um cliente, ou a experiência irritante de trabalhar como atendente em uma lanchonete e ter que lidar com uma criança mimada e extremamente mal-educada.

Hoje em dia, infelizmente, filmes como este jamais sairiam do papel. Quando Harry (Lancaster) incita seus companheiros idosos de asilo à rebeldia, incomodado ao perceber como os enfermeiros desrespeitam os indivíduos, tratando-os como seres infantilizados, sem dignidade, a obra critica corajosamente um aspecto espinhoso no tratamento geriátrico.

O desfecho, apesar de afinado no diapasão cômico, remete ao sacrifício consciente no clássico “Butch Cassidy”, vemos duas relíquias de um tempo perdido enfrentando de peito aberto forças policiais fortemente armadas, tentando roubar o mesmo trem que, décadas atrás, levou eles à prisão, sem qualquer chance de sucesso, com o auxílio improvável do personagem enigmático que passou o filme todo perseguindo eles, presença encantadoramente caricatural de Eli Wallach.

Os críticos da época apedrejaram o projeto, talvez eles estejam felizes hoje, já que o entretenimento acovardado e, utilizando a expressão da garotada, “mimizento”, que os durões da fita atacavam gloriosamente, reina absoluto na indústria, protegido pela patrulha do politicamente correto, adolescentes inseguros e adultos infantilizados, com a estúpida cultura dos “cancelamentos”. Triste realidade.

Como o título da música-tema defende, “não se fazem mais homens como antigamente”.

Cotação:

Música-tema, “They Don’t Make Them Like They Used To”, composta por Burt Bacharach e Carole Bayer Sager, cantada por Kenny Rogers:

Trailer:

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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