Casa Vazia (Bin Jip – 2004)
Tae-suk (Jae Hee) tem o hábito de invadir residências quando seus moradores viajam, vivendo nelas até que eles retornem. Numa noite, ele se depara com Sun-hwa (Lee Seung-yeon), jovem que sofre com um casamento afrontoso, e ao ajudá-la, a moça apaixona-se por ele.
Sabe aquele tipo de filme que suscita comentários como: não é para qualquer um? O cinema do sul-coreano Kim Ki-duk é uma boa representação deste conceito arrogante, tolo, que esconde quase sempre uma execução insuportavelmente modorrenta e umbilical, feita sob medida para encantar indivíduos intelectualmente inseguros, normalmente adolescentes em fase de autoafirmação. Dito isto, há uma obra dele que considero um ponto fora da curva, aquela em que ele melhor utiliza o silêncio, “Casa Vazia” entrega um conceito original, instigante, executado com impressionante fluidez. Eu tive contato com ele em 2005, jamais esqueci o impacto que senti na sala escura.
A cena inicial é enigmática, vemos uma bola de golfe acertando algumas vezes uma rede, o único elemento que protege uma estátua feminina (representando a personagem Sun-hwa, que posteriormente é apresentada em situação de risco), a invisibilidade como leitmotiv, já que não é mostrada a pessoa que empunha o taco (o título em inglês, “3-Iron”, faz referência direta ao taco de golfe menos utilizado em uma partida), logo, o diretor Kim Ki-duk consegue, com apenas uma imagem, sintetizar a essência da obra.
O conceito é apavorante, especialmente por ser apresentado de forma tão tranquila, vemos o jovem Tae-suk, entregador de panfletos, invadindo um apartamento vazio (o panfleto antigo permanecia na porta), checando a secretária eletrônica e descobrindo que os donos estão viajando, então ele se familiariza com cada ambiente, toma banho, seleciona a escova de dentes que irá utilizar, prepara sua refeição com o que encontra na geladeira, faz selfie na frente da foto deles, e, como fica mais claro na vez em que invade a casa de um boxeador, ele adota por osmose os hábitos e gostos da vítima, em suma, ele se apropria daqueles espaços com total segurança. Quanto menos se souber sobre a trama, melhor será a experiência, mas é curiosa a maneira que o roteiro encontra, ainda nos dez minutos iniciais, de subverter radicalmente as expectativas do público sobre o protagonista.
O parágrafo seguinte terá spoilers, recomendo que seja lido após a sessão.
O desfecho é lindo e intrigante na sua simbologia, Tae-suk e Sun-hwa, seres invisíveis na sociedade, sobre a balança que não registra peso algum (a leveza de consciência), ela então beija os lábios dele, que está com o rosto encostado exatamente na foto do rosto dela na parede. Ao beijar a lembrança dele, ela beija a si própria. Alguns minutos antes, o roteiro evidenciou que ela aprendeu a se defender, revidando pela primeira vez a agressão do marido, logo, será questão de tempo até que ela se liberte daquele relacionamento.
Cotação:
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