Críticas

“Happy Old Year”, de Nawapol Thamrongrattanarit, na NETFLIX

Happy Old Year (2019)

Durante uma reforma na sua casa, uma mulher volta ao passado depois de encontrar alguns pertences do ex-namorado.

Não conhecia o trabalho do roteirista/diretor tailandês Nawapol Thamrongrattanarit, mas fiquei positivamente surpreso com a sensibilidade, a delicadeza deste tesouro que merece ser garimpado.

O conceito é simples, uma jovem (excelente Chutimon Chuengcharoensukying), que sofre a ausência paterna, busca se autoproteger emocionalmente negando o apego pelas coisas, do LP que escutava na adolescência à máquina fotográfica, ela simplesmente joga tudo em sacos de lixo. A desculpa elegante que utiliza é rasa, estilos modernos de decoração que fazem coro ao discurso da garotada, desprezando o passado.

A crítica é clara, personagens debocham da mídia física, VHS, CD, ignorando que o ritual de apreciação também se perde, não é coincidência que a indústria fonográfica empobreceu em qualidade nas últimas décadas. Há beleza na tatilidade cultural, no ato de colecionar, cuidar, valorizar até mesmo o aroma da flor seca que marca as páginas de um livro.

A intangibilidade tecnológica é prática, mas exaure a experiência de encantamento. A mãe da personagem sabe disto, ela não quer se desfazer do piano antigo que era tocado pelo marido que a abandonou, aquele instrumento musical foi testemunha de momentos lindos e alegres da família, apesar de saber que aquela memória física no ambiente faz sofrer a filha. O filme nos conduz então por um processo sóbrio e terno de aprendizado, quando a jovem sente na pele a dor de ser descartada.

O equilíbrio é o melhor caminho, manter viva a memória e se adaptar ao novo, mas não é fácil, a batalha interna só pode ser travada com segurança ao se amadurecer a compreensão de que a mudança de atitude não depende de elementos externos, ela é a mais importante e a mais eficiente.

Cotação:

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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