Críticas

Crítica de “O Herói”, de Brett Haley

O Herói (The Hero – 2017)

Famoso pelos filmes de faroeste, Lee Hayden (Sam Elliott), um ator idoso, precisa lidar com sua nova realidade e seu legado dentro e fora das telas.

  • O texto terá leves spoilers, então recomendo que seja lido após a sessão.

O ato de não se conformar com a finitude, a única certeza da vida, que, representada na obra pelo belíssimo poema de Edna St. Vincent Millay, encontra na assinatura sensível do diretor Brett Haley e, principalmente, na entrega visceral de Sam Elliott, a sua defesa mais apaixonada, verdadeiramente encantadora.

O roteiro (de Haley e Marc Basch) trabalha com lirismo um tema espinhoso, o veterano herói dos faroestes, lembrado apenas pelos fãs mais dedicados, vive seus anos crepusculares aceitando ofertas profissionais que não exigem muito, como dublagens em comerciais de cigarro, as empresas pedem sua voz, desprezam o físico envelhecido, uma crítica eficiente ao comportamento da sociedade com o próprio passado. Aquele que não respeita a memória, não valoriza o presente e não terá futuro.

“Filmes são os sonhos dos outros.”

Ao descobrir que está gravemente doente, passa a dar vazão à sua imaginação, segmentos oníricos em que o público prestigia cenas do filme que ele ainda sonha fazer, projetando suas frustrações, sua angústia e (toque bonito) sua coragem, surpreendendo o pistoleiro inimigo, traiçoeiro (finitude), sacando rapidamente, empunhando sem tremer o instrumento de sua liberdade. No dia a dia, ele busca alento imediatista no torpor dos alucinógenos, amargurado com o afastamento da filha (Krysten Ritter), além de um casamento fracassado com Valarie (Katharine Ross, de “A Primeira Noite de Um Homem” e “Butch Cassidy”, esposa do ator na vida real), cenário conturbado que o leva a questionar o desejo de prolongar por alguns anos sua existência com uma cirurgia.

A figura da jovem Charlotte, vivida pela linda Laura Prepon, um interesse romântico que intriga o próprio protagonista, acaba sendo o elemento mais interessante, já que desafia rótulos simplistas. Ela pode ser delicada e intempestiva, alguém em busca de um propósito, confusa com seus sentimentos, carente, capaz de magoar e se redimir com um olhar carinhoso, exatamente como ele. Lee é uma amostra do que pode ser o reflexo no espelho dela no futuro, o amor nasce entre eles por inconsciente identificação.

O desfecho em aberto engrandece a experiência, o que realmente importa é reatar laços, desfazer erros, somos poeira de estrelas, transformamos dor em alegria pelo pouco tempo em que compartilhamos a jornada. Não podemos nos conformar, nunca!

Cotação:

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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