Críticas

“A Última Lição”, de Pascale Pouzadoux, na AMAZON PRIME

A Última Lição (La Dernière Leçon – 2015)

Madeleine (Marthe Villalonga), 92 anos, decide definir a data e as condições do fim de sua vida. Ao anunciar aos seus filhos e netos, ela quer prepará-los o mais suavemente possível para a sua futura ausência. Diane (Sandrine Bonnaire), sua filha, respeitando a sua escolha, irá compartilhar com humor e cumplicidade os últimos dias.

Esta pérola francesa da roteirista/diretora Pascale Pouzadoux passou batida por mim em sua estreia nos cinemas brasileiros, mas tive a oportunidade de ver agora na Amazon Prime, não pensei duas vezes. Se você ainda não assinou a plataforma de streaming, talvez este seja o momento. A bela trama, baseada livremente em uma história real, conquista o coração do público pela elegância com que trata o difícil tema, e, principalmente, pelo carisma de suas protagonistas, Marthe Villalonga e Sandrine Bonnaire.

A mensagem da obra é forte, apesar de ser tratada com leveza e bom humor na maior parte das vezes, já evidenciada na primeira sequência, mostrando a senhora cumprindo os afazeres marcados em sua agenda, alguns deles, como conduzir seu automóvel pelas ruas, acabam se provando complicados, mas ela se recusa terminantemente à se apequenar, moldando-se ao padrão reducionista que a sociedade reserva aos idosos. O roteiro também merece aplausos por não tocar em questões religiosas, a ética levada em conta é humanista em essência, sem culpa, sem concessões.

Se ela passou toda a sua vida com dignidade, não será nos capítulos finais de seu livro que ela simplesmente vai se permitir ser humilhada pelo desgaste natural da “máquina”. Ao completar 92 anos de idade, em plena reunião familiar, ela choca os filhos ao afirmar com segurança e lucidez: “Antes que eu me torne um fardo para vocês e para eu mesma, marquei a data para o fim, daqui a dois meses.” O conceito é estabelecido logo nos primeiros cinco minutos, Madeleine troca conscientemente o arrastar indefinido de uma existência desumanizante por um curto, porém intenso em alegria, período de celebração por seu “conjunto de obra”.

Marthe Villalonga defende sua personagem sem resvalar na autopiedade, mérito considerável, as lágrimas brotam naturalmente nas cenas em que o laço de amor entre mãe e filha é fortalecido com flashbacks emoldurados pela cumplicidade. Há também um emocionante aceno à “Morangos Silvestres”, de Ingmar Bergman, quando vemos o reencontro da viúva Madeleine com uma antiga paixão.

“A Última Lição” pode flertar com a pieguice em alguns momentos, mas é algo totalmente compreensível, o saldo final é positivo, impossível terminar a sessão sem ser emocionalmente tocado pela história.

Cotação:

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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